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Por José Benedito da Silva
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Abandono da região onde Dom e Bruno morreram reanimou conflito de décadas

Terra indígena no Vale do Javari passou cerca de quinze anos com violência sob controle, diz ex-coordenador da Funai

Por Tulio Kruse Atualizado em 20 jun 2022, 10h22 - Publicado em 19 jun 2022, 10h09

Madeireiros, pescadores, posseiros e garimpeiros que hoje vivem nas comunidades ribeirinhas ao longo do rio Itaquaí já estiveram entre os invasores do mesmo território onde hoje está a terra indígena do Vale do Javari, região onde foram assassinados o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista Dom Phillips. Há mais de 20 anos, esses moradores tiveram de ser realocados para fora da área demarcada para que as tribos pudessem retomar locais ocupados durante séculos por seus ancestrais. Nos últimos anos, o retorno de invasores trouxe uma onda de ameaças e violência direcionadas aos indígenas.

O relato sobre a origem de comunidades como São Rafael e São Gabriel, onde Pereira e Phillips foram vistos com vida pela última vez, é do indigenista Antenor Vaz. Ele chefiou a Funai no Vale do Javari de 2006 a 2009, e conta que durante quinze anos a segurança na região foi feita sem grandes dificuldades por órgãos federais. Os conflitos na região têm os mesmos protagonistas desde antes da homologação da posse da terra aos indígenas, que ocorreu em 2001. Vaz conta que o processo de retirada dos invasores foi tumultuado e durou três meses, mas só ocorreu porque o órgão indigenista teve o apoio das Forças Armadas.

“Para proceder a demarcação em terra foi necessária uma aliança entre a Funai e o Exército, e levou mais de três meses para retirar todos os invasores da terra indígena. Parte desses invasores passou a criar comunidades ribeirinhas, que são essas que hoje de que estamos ouvindo falar (São Rafael e São Gabriel)“, conta.

Com uma reestruturação da Funai durante a década de 2010 e a diminuição das equipes da Funai, a terra indígena voltou a ver episódios graves de violência. Dessa vez, a novidade era a presença marcante do narcotráfico, segundo Vaz. A Polícia Federal investiga a relação entre pescadores e garimpeiros da região com facções criminosas que transportam droga através dos rios. O vale fica próximo à tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia, onde estão as maiores produções de cocaína do mundo.

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Peixe pirarucu é apreendido pelo Exército após investigação da Polícia Federal examinar embarcação apreendida por força-tarefa em Atalaia do Norte (AM) – (Joao Laet/AFP)

A comunidade local, porém, era conhecida de Pereira e dos indígenas, que organizaram uma equipe de Vigilância Indígena para suprir a falta de assistência dos órgãos federais. “O próprio Bruno e a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) já tinham entregue ao Ministério Público e à Polícia Federal documentos com nomes e fotos de pessoas, pontos geográficos dizendo onde essas pessoas moravam e que eram pessoas que estavam ameaçando não só o Bruno, mas as equipes de vigilância da Univaja e as lideranças”, diz o indigenista, que deixou a Funai em 2013 e hoje é consultor independente para politicas de proteção a povos indígenas isolados.

Como as ameaças eram constantes e os órgãos de segurança já haviam sido alertados sobre os problemas, a morte de Pereira e Phillips tem atraído intensas críticas de especialistas que acompanham a situação da Amazônia. A percepção de que houve atraso para que as Forças Armadas acionassem soldados e helicópteros de busca também contribui para as críticas. “São raros os funcionários da Funai que têm a possibilidade de portar arma, essa é uma discussão, mas o procedimento básico (em casos de violência na área) é a ajuda formal da Funai e dos órgãos de repressão. Isso aconteceu, mas o tempo para isso acontecer tem de ser rápido”, diz o antropólogo Frederico Barbosa, que pesquisa a Funai no Instituto de Planejamento e Pesquisa (Ipea).

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