Quando o José terá vez no Brasil?
Um prontuário médico universal, com acesso disponível a todos os profissionais de saúde, reduziria custo e agilizaria tratamentos
Numa tarde de segunda-feira tive o seguinte diálogo com uma enfermeira de um hospital público:
– Doutora, o seu José perdeu a sua consulta porque teve Covid-19 e, pelo sistema, ele só conseguirá ser atendido em março do ano que vem. Será que a senhora pode ajudá-lo?
Assustada, eu só consegui falar:
– Oi??? Ano que vem??? Óbvio que ajudo! Pode encaixá-lo. Vejo ele na próxima semana.
Sim, que bom que consegui ajudar um paciente. Mas vocês leram bem – um paciente. E os outros milhares ou milhões? Quantos seus Josés e donas Marias não perdem consultas diariamente por motivo de força maior? Na maioria das vezes por conta da saúde debilitada ou por faltar dinheiro no bolso para pegar uma condução.
Pode ser um clichê, mas o óbvio precisa ser dito: a desigualdade está presente em todas as esferas do nosso país. O que será que precisaria realmente acontecer no Brasil para mudarmos essa realidade? Seria o máximo se eu conseguisse neste curto espaço fomentar o rumo para mudar o Brasil. Sei que parece uma utopia, mas, como sonhadora que sou, quero dar uma opinião sobre a área em que atuo.
Imagine se o prontuário do SUS fosse unificado. Um prontuário universal, com acesso disponível a todos os profissionais de saúde, independentemente do local de atendimento, com todos o histórico das consultas, das medicações e dos exames. Isso certamente reduziria o custo e agilizaria o processo do cuidado.
Por exemplo, em uma consulta em que não tenhamos acesso ao resultado de um ecocardiograma já realizado pelo paciente, mesmo que seja recente, faz com que o solicitemos novamente, o que consumirá mais tempo. Depois, uma nova consulta será agendada (mais alguns meses) e só então uma conduta será tomada.
Ora, o acesso antecipado ao exame ajudaria na definição de diagnósticos e permitiria ao profissional da saúde avaliar a gravidade do caso e, se preciso, dar prioridade ao paciente em questão.
Dessa forma, não repetiríamos exames em vão, evitaríamos inúmeros erros de prescrição, uma vez que o doente com frequência não se lembra do remédio que lhe foi receitado para, por exemplo, pressão arterial. E o mais importante: conseguiríamos reduzir o número de óbitos em fila de espera.
Uma parceria público-privada (PPP) com uma empresa ligada à tecnologia daria conta de providenciar esse prontuário universal. Seria uma mudança simples que impactaria positivamente na vida de milhões de brasileiros.
Com o prontuário universal os doentes seriam mais bem atendidos, enfrentariam menos filas, teriam os diagnósticos mais precoces, seus problemas seriam solucionados de maneira mais rápida. Em resumo, mais vidas seriam salvas.