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Por que devemos insistir no desenvolvimento de vacinas nacionais

Além do avanço científico e tecnológico, pesquisa realizada no Brasil poderá suprir necessidade em cenários pandêmicos

Por Rosana Richtmann*
16 set 2024, 10h07

Recentemente, reportagens informaram que o Instituto Butantan decidiu suspender o desenvolvimento de uma vacina nacional contra a covid-19 após os resultados da fase II do estudo clínico estarem abaixo do esperado. Estar aquém da expectativa significaria que o projeto não deu certo? Absolutamente não! A vacina em questão dobrou a quantidade de anticorpos contra o vírus, ou seja, oferecia proteção contra a doença. Entretanto, a meta era quadruplicar esse indicador, igualando-se aos imunizantes já existentes.

O projeto certamente beneficiou a instituição com ainda mais conhecimento sobre o processo científico e tecnológico que sustenta esse tipo de desenvolvimento. Não custa lembrar que o Butantan tem outras vacinas promissoras em estudo, como a fórmula contra a dengue, além de já produzir vários imunizantes contemplados no calendário de vacinação do Programa Nacional de Imunização (PNI) do SUS, caso da tríplice bacteriana e das picadas para hepatites A e B.

A decisão da interrupção do estudo é bastante racional do ponto de vista sanitário, econômico e social, critérios objetivos para balizar investimentos em tecnologia e saúde. Pelas mesmas razões, a sociedade deve apoiar massivamente projetos de desenvolvimento de vacinas, quaisquer que sejam as instituições de pesquisa do país.

Em termos econômicos, para citar um estudo feito por pesquisadores da Universidade John Hopkins, nos EUA, as análises indicam que 1 dólar investido em vacinas gera até 44 dólares economizados aos sistemas de saúde de países de baixa e média renda. A mesma pesquisa confirma os benefícios sociais e o impacto positivo na saúde da população.

O caminho para o desenvolvimento de um novo imunobiológico seguro e eficaz é complexo. Além dos investimentos necessários, é fundamental contar com recursos humanos altamente especializados e laboratórios de última geração. É um longo percurso, com tentativas frustradas, mas muito aprendizado.

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O sucesso de pesquisas realizadas em nosso país, por outro lado, traz os benefícios já citados e a independência da nossa cadeia de suprimentos. Criar esta autonomia significa estabelecer a segurança da população para a prevenção de doenças evitáveis e, em cenários pandêmicos que exijam a criação de uma vacina, possibilita a implantação de soluções internas com maior rapidez e flexibilidade.

Não é nenhuma novidade a evidência de que vacinas são produtos que salvam vidas, prevenindo inúmeras doenças, e reduzem custos do sistema de saúde. A sociedade tem acesso a dados e indicadores que corroboram essas afirmações, a despeito de uma minoria que insiste em negar os fatos. Apesar disso, vamos insistir na defesa do investimento contínuo no progresso da saúde para nosso país.

* Rosana Richtmann é infectologista, diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e consultora de vacinas da Dasa

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