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O que você pode fazer para reduzir o risco de câncer de pele

A natureza criou um escudo protetor contra os tumores, o mecanismo epigenético. Sua robustez depende de fatores externos como exposição solar com proteção

Por Marcelo Bendhack
3 jan 2022, 17h03

Nosso DNA contém aproximadamente 3 bilhões de blocos de construção individuais. Os genes importantes para nossas células são aproximadamente 21.000 e formam apenas 1,5% desses componentes individuais. Se esses componentes prejudiciais fossem ativados, eles interfeririam no uso limpo de nossos genes “bons”, atacariam e fragmentariam nosso DNA e afetariam significativamente o funcionamento das células. A consequência seria que milhões e milhões de nossos (aproximadamente) 3 trilhões de células pereceriam e um processo de envelhecimento progrediria rapidamente e, nos estágios finais, possivelmente, causaria câncer.

Felizmente, a natureza criou um escudo protetor para desligar essas seções prejudiciais dos segmentos de genes semelhantes ao nosso DNA. Esse escudo protetor é chamado de mecanismo epigenético e a sua robustez depende de fatores externos da vida, como a dieta, o tabagismo, o consumo de álcool, as toxinas no trabalho, o estresse.

Um desses fatores externos é a exposição solar excessiva, sem proteção, que pode provocar alterações celulares, levando ao desenvolvimento de câncer de pele, que é separado em dois tipos: melanoma e não melanoma. Os mais frequentes são o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular, menos agressivos, mas que podem causar lesões funcionais e estéticas.

O câncer de pele é o tumor de maior incidência no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), os números são preocupantes. No País, o câncer de pele corresponde a 27% de todos os tumores malignos. O Inca aponta que, em 2020, foram registrados 8,5 mil novos casos.

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A pesquisa atual sobre câncer tem avançado e se debruçado sobre os mecanismos epigenéticos desregulados, que são fatores importantes no início e no desenvolvimento da doença. No entanto, um levantamento da literatura atual fornece a visão de que isso é menos investigado no melanoma do que em relação a muitos outros cânceres, como para o carcinoma de próstata, mama e cólon.

Por isso, as novas perspectivas da pesquisa epigenética também sobre o melanoma são fundamentais para o seu diagnóstico e terapia. Atualmente, a hipótese da chamada alteração PrimeEpiHit (PEH), que recebeu uma publicação específica no Scientific Reports (Nature), abre novas perspectivas para a detecção precoce, para o seguimento (acompanhamento após o tratamento) e para novas terapias.

Essa alteração aponta para que genes-chave do metabolismo possam ser afetados epigeneticamente. E isso também pode ser relevante para o início do melanoma. Portanto, as pesquisas atuais são interessantes e devem ser exploradas em detalhes para alcançar um progresso adicional no diagnóstico e na terapia do melanoma, um câncer mortal.

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É importante entender que vários mecanismos epigenéticos hereditários constituem um vínculo mediador entre o uso da informação genética de uma célula e as condições ambientais. Esses mecanismos também exibem uma capacidade notável de se adaptar adequadamente às pressões ambientais flutuantes, dentro de um espaço de tolerância evoluído, garantindo a atribuição funcional, apesar das pressões ambientais flutuantes vindouras.

Estar ciente disso é crucial, uma vez que nos livra da visão incriminatória de que somos vítimas de nossa herança genética, ao nos elevar a mestres de nosso destino, uma vez que somos capazes de impactar voluntariamente sobre nossa própria regulação do gene epigenético.

Por outro lado, o processo de envelhecimento, principal fator de risco do câncer, nos ensina que a perda gradual da integridade desses mecanismos epigenéticos é acompanhada pela perda da função celular e deterioração celular. Ou seja, uma célula cancerosa parece ser um estágio de abandono da especificidade funcional para limitar a existência celular à simples sobrevivência.

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A pressão extensiva de elementos nocivos e prejudiciais sobre as células ocorre, por exemplo, por meio de substâncias cancerígenas na fumaça do cigarro e elementos nocivos da radiação ultravioleta, neste último caso um dos fatores de risco fundamentais para o câncer de melanoma.

A exposição permanente à radiação UVB (Raios Ultravioleta B) afeta o material genético de melanócitos produtores de pigmentos diferenciados na camada basal da epiderme da pele. Com isso, a célula é forçada a adotar um status de célula mais desdiferenciada, enquanto perde suas funções especializadas.

Estima-se que mais de 70% dos melanomas cutâneos sejam causados pela exposição à radiação ultravioleta – UVB. A característica desta transformação tem frequência mais alta de mutação de todos os cânceres, comumente afetando os principais genes supressores de tumor.

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Diagnóstico epigenético

É certo que precisamos de biomarcadores para o melanoma, para diagnosticar de forma sensível e precoce o início e a recorrência da doença. Isso, por exemplo, nos ajudará a suspender idealmente a terapia no momento certo, e evitar eventos adversos associados a um tratamento terapêutico prolongado e desnecessário.

Vemos as mudanças epigenéticas como as únicas alterações conhecidas do câncer que são consistentes a um estágio específico do tumor. Portanto, eles são uma base sólida para o avanço das pesquisas.

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Por fim, e isso é válido pra todo o conjunto de tumores, os fatores externos devem ser observados e, no caso do melanoma, redobrados os cuidados com a exposição solar excessiva e, principalmente, sem proteção. Por um lado, estão as nossas ações comportamentais individuais, por outro, a medicina, que se ocupa também da epigenética, para evoluir na detecção precoce, no acompanhamento após o tratamento e nas novas terapias.

*Artigo escrito em parceria com Prof. Dr. Simeon Santourlidis, Chefe do Laboratório Central de Pesquisa em Epigenética do Instituto de Diagnóstico de Transplantes e Terapêutica Celular na Universidade Heinrich-Heine, Düsseldorf, Alemanha.

Letra de Médico - Marcelo Bendhack
(./Divulgação)
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