O dilema das companhias artificiais na adolescência
IA pode reforçar pensamento disfuncionais, validando certos comportamentos sem questioná-los, o que mantém o jovem preso em padrões prejudiciais
Ao longo da história, adolescentes sempre foram protagonistas frente a saltos de inovação tecnológica, seja na experimentação ou na popularização do que é considerado novidade. Momentos como esse representam possibilidades e riscos.
Atualmente, estamos enfrentando a questão das inteligências artificiais (IAs), particularmente em seu uso como companheiras digitais ou como mediadoras de psicoterapias.
Em um curto período já podemos perceber seu impacto, transformando a maneira pela qual os jovens aprendem e se relacionam. IAs podem oferecer suporte imediato, auxiliar na organização de informações e até servir como uma ponte para a expressão emocional de jovens em sofrimento psíquico ou com dificuldades de socialização.
No entanto, quando não utilizadas com cautela, surgem os riscos. A inteligência artificial pode reforçar pensamento disfuncionais, validando certos comportamentos sem questioná-los, o que mantém o jovem preso padrões prejudiciais. Além disso, a interação constante com a IA pode levar ao descolamento da realidade, já que o ambiente digital é controlado e previsível, contrastando com o mundo real, que é fluido e imprevisível. Outro risco é a exposição a conteúdo prejudicial ou impreciso, uma vez que a inteligência artificial pode fornecer informações sem a devida supervisão humana, resultando em desinformação ou reforço de estereótipos.
Em junho deste ano, a Associação Americana de Psicologia (APA, na sigla em inglês) publicou o parecer “Inteligência Artificial e o Bem-Estar Adolescentes”, enfatizando a necessidade de cuidado à medida que a IA se torna cada vez mais presente na vida dos jovens. O documento destaca a importância de se estabelecerem limites a relações simuladas por essa tecnologia garantindo que os adolescentes reconheçam a diferença entre interações humanas e digitais.
Além disso, a APA recomenda que desenvolvedores criem sistemas de inteligência artificial com configurações de privacidade adequadas à idade, incluindo filtros de conteúdo e limites de interação, assegurando transparência e supervisão humana. A promoção de usos construtivos da IA, como apoio ao aprendizado e desenvolvimento de habilidades, é outra diretriz, desde que os jovens estejam cientes das limitações dessas ferramentas.
A proteção contra conteúdo prejudicial e impreciso também é essencial, com a implementação de medidas que restrinjam o acesso a informações inadequadas. A privacidade dos dados dos adolescentes deve ser priorizada, limitando a coleta e uso de informações pessoais, especialmente no que tange à publicidade direcionada ou venda de dados a terceiros. A APA também enfatiza a necessidade de uma educação abrangente em alfabetização digital e IA, integrando esses temas nos currículos escolares e desenvolvendo diretrizes nacionais e estaduais para orientar sua implementação.
Para pais e escolas, o parecer da APA sugere a promoção de um diálogo aberto sobre o uso da inteligência artificial esclarecendo como essas ferramentas funcionam e seus impactos potenciais. É fundamental que pais e educadores estejam informados sobre as tecnologias que os jovens utilizam, participando ativamente na orientação sobre o uso responsável e seguro da IA.
A implementação de políticas públicas que promovam o uso ético da IA nas instituições de ensino é crucial, incluindo a criação de diretrizes claras e a formação de educadores para lidar com os desafios impostos por essas tecnologias. Além disso, é importante que pais e escolas incentivem o desenvolvimento de habilidades críticas nos jovens, capacitando-os a avaliar e questionar as informações fornecidas pela IA promovendo a autonomia e a responsabilidade no ambiente digital.
Por isso, enquanto as inteligências artificiais oferecem oportunidades valiosas para o desenvolvimento e bem-estar dos adolescentes, é urgente que seu uso seja acompanhado de medidas cuidadosas e informadas. A colaboração entre desenvolvedores, educadores, pais e formuladores de políticas públicas é essencial para garantir que a integração da IA na vida dos jovens seja segura e ética, respeitando os direitos e promovendo o desenvolvimento do indivíduo.
*Gustavo M. Estanislau é médico psiquiatra especialista em infância e adolescência, pesquisador e consultor técnico no Instituto Ame Sua Mente
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