Sem negros na transição? O que é isso, companheiro?
Haverá negros nos ministérios e nos demais cargos de prestígio do governo Lula?
Ao longo da campanha e do debate político eleitoral, foram várias as manifestações do candidato Lula e do Partido dos Trabalhadores e de sua coligação no sentido de enfatizarem a importância do voto negro e a necessidade de priorizar aspectos significativos dessa agenda. Lula e o PT sempre denunciaram o racismo e a exclusão do negro da política. Além disso, promoveram as mais importantes ações, medidas e políticas públicas de inclusão, valorização e participação dos negros no espaço público e político do país.
Basta lembrar as leis de cotas nas universidades, nos concursos públicos, o Estatuto da Igualdade Racial, a Secretaria Especial da Igualdade Racial e a nomeação como ministros de Gilberto Gil, na Cultura, Orlando Silva, no Esporte, Benedita da Silva, na Assistência Social, Matilde Ribeiro, na Seppir, Edson Santos na Seppir, Elói Ferreira na Fundação Cultural Palmares, e, sobretudo, Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal.
Se isso fez sentido nos governos de Lula e do PT há quase vinte anos atrás, quando o negro caminhava para se transformar numa potência demográfica e votante, que dirá agora quando o negro representa a maioria dos candidatos, dos eleitores, responde por 54% da população, dos evangélicos, dos católicos, das mulheres e se transforma rapidamente numa elite intelectual. E, principalmente, quando de forma leal, convicta e solidária entregou a totalidade dos votos para o candidato Lula.
Se as transformações políticas no mundo exigiram que Biden forrasse seu governo de negros no primeiro escalão, a Colômbia indicasse Francia Lopes como sua primeira vice-presidente negra, e, até a ex-primeira ministra britânica Liz Truss nomeasse ministros negros para as finanças e relações exteriores, o que dizer do Brasil onde a eleição opôs lado a lado civilização e barbárie, e o voto negro foi o fiel da balança?
Para o novo tempo de reconstrução do novo e do diferente disso tudo que estava aí e para ir além do símbolo do deputado Hélio Bolsonaro grudado no ombro de Bolsonaro é indispensável que a nova estética política seja inclusiva, plural e diversa desde o seu nascedouro. Se não havia negros no hotel e na foto oficial onde se comemorou a vitória de Lula e se não há negros na Comissão de Transição, haverá nos ministérios e nos demais cargos de prestígio? Pelo sim e pelo não, a apreensão e dúvida que se estabelece remete à pergunta inconveniente e necessária que não quer calar: o que é isso, companheiro?