Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

José Vicente Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
Continua após publicidade

Por que não dá para desculpar o racismo do vereador de São Paulo

Como é notório quando criminosos raciais são pegos, o político tentou fugir de sua responsabilidade dizendo que “errou”

Por José Vicente 4 Maio 2022, 16h26

De maneira vil e degradante, o vereador branco Camilo Cristófaro (PSB-SP), representante do povo paulistano, em sessão da câmara municipal, afirmou para um interlocutor que o fato de uma calçada apresentar-se mal arrumada e não lavada se tratava de “coisa de preto”. A expressão manifestamente de cunho racista provocou imediata e estrondosa repercussão negativa, e, como é notório quando os criminosos raciais são pegos com a mão na botija, ele se desculpou publicamente afirmando reconhecer que “errou”.

Uma das características estruturantes do racismo é alicerçar sua justificativa a partir da convicção de que existe uma distinção natural entre negros e brancos, onde os brancos são portadores das virtudes e os negros de todas as negatividades, vícios, máculas e imperfeições. A virtude e a brancura transformam-se em expressão da humanidade na sua perfeição, pureza e bondade e todo o resto é fruto da brutalidade, da boçalidade e estupidez própria dos animais.

Esse universo artificial branco de conforto e comodidade constrói a dicotomia que separa o negro do branco e a relativização que fundamenta e determina sua permanente construção, defesa e manutenção. O branco é a expressão da virtude e, assim, o superior que precisa ser preservado, cultuado e celebrado como expressão da humanidade, e o negro, por outro lado, aquele despossuído de humanidade, e que , por isso mesmo, pode, deve e precisa ser aviltado, vilipendiado e desprezado como expressão da animalidade que é portador.

Junto com os atos, gestos e atitudes, a manifestação do pensamento tem sido arma potente e vigorosa na exteriorização, prática e difusão do ódio e da intolerância racial. Coisa de preto, assim, é a expressão mais definitiva com as quais os racistas convictos ou involuntários têm externalizado (de forma direta ou em atos falhos) a torpeza, a indignidade e a vilania do racismo contra os negros.

Continua após a publicidade

O racismo é cruel. Ele ofende, agride e violenta a dignidade, a honra e humanidade do indivíduo, semeia a discórdia, estimula o conflito e cerceia o exercício igualitário dos direitos; além de menosprezar, desprezar e afrontar a cidadania. Justamente por essa gravidade, o racismo deve ser punido rigorosamente. O repúdio social pode até constranger e fazer calar os racistas, mas o racismo é crime hediondo, e com o crime e os criminosos raciais não pode haver concessão.

No caso do jornalista William Waack, que relacionou desordem, alarido e bagunça como coisa de preto, a direção da Rede Globo teve coragem, grandeza e nenhuma pena ou compaixão: demissão sumária. Já no episódio do vereador Camilo Cristófaro, o que farão Milton Leite, o presidente negro da Câmara dos Vereadores, e seus pares, diante do crime comprovado?

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.