O general negro americano pode salvar nossa democracia
Pluralidade, diversidade e igualdade politica racial são a maior garantia e segurança da longevidade de um país democrático
Para quem tem dúvida sobre a gravidade do momento politico brasileiro, da real ameaça do rompimento da ordem politica e institucional e mesmo do temido golpe, a visita surpresa do Secretario de Defesa Americano, general Lloyd Austin ao Brasil para discutir, entre outros assuntos, o papel dos militares em uma sociedade democrática, o respeito às autoridades civis e os processos democráticos e os direitos humanos, deveria ser o suficiente para espancar as dúvidas e deixar todos de barba de molho.
A presença do senhor das guerras americano em solo tupiniquim representa de forma surpreendente o novo normal de duas facetas extraordinárias dos problemas crônicos do Brasil e da região: a instabilidade politica e os ataques abertos ao poder politico constitucional e a exclusão e desigualdade racial. Depois de assistirem incrédulos e em casa o quase naufrágio da democracia levada a efeito por Donald Trump e seus acólitos, os americanos puderam vivenciar na pele como as democracias morrem. Rapidamente passaram a levar a sério a máxima ‘orai e vigiai’ e, pelo sim pelo não, o Pentágono convocou uma urgente e providencial conversa ao pé do ouvido com os possíveis celerados e seus simpatizantes para lembrar da risca de giz que subordina a todos na região: manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Como nas outras vezes, isso deve funcionar e ser o suficiente. Ao final os americanos têm o tribunal penal internacional, a jurisdição universal da Justiça americana e suas extradições unilaterais, a apreensão de passaportes, jatinhos e iates e os sempre temidos congelamentos de bens em território americano, de aliados e em paraísos fiscais. Sem desconsiderar, da mesma forma, o fechamento do acesso aos recursos econômicos e às tecnologias militares.
A outra faceta extraordinária é ele mesmo, a partir da sua simbologia e de sua representavidade. Num país de passado escravista, de apartheid racial expresso e de profundo racismo, onde os negros representam 12% dos cidadãos, o processo politico e social de inclusão, democratização e participação racial igualitária ostentam cinco ministros negros, sendo um deles general de cinco estrelas e Secretario de Defesa, que comanda a maior força bélica planetária. Sem se esquecer, logicamente, da vice-presidente negra Kamala Harris e da nova Juíza negra da Suprema Corte, Ketanji Brown Jackson, nomeada recentemente pelo presidente Joe Biden.
Para o nosso país, que precisa desesperadamente superar as ameaças e a efetivação de golpes e combater e contrapor aos golpistas, a melhor estratégia e a melhor saída é reconfigurar o equilíbrio politico por meio da inclusão e fortalecimento do negro na vida politica e institucional do país. Pluralidade, diversidade e igualdade politica racial são os mais eficientes antídotos contra os celerados e a maior garantia e segurança da longevidade da democracia. Fica a dica.