Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

José Vicente Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
Continua após publicidade

Carrefour, a nova régua contra o racismo empresarial

Medidas da empresa inauguram a participação dos negros na mesa de estruturação das estratégias de gestão de crise

Por José Vicente
17 jun 2021, 18h17

Os vultosos 27 milhões de dólares que a cidade de Minneapolis pagou de indenização aos familiares de George Floyd, pela ação dos seus policiais que resultou no seu abominável assassinato, constituiu-se num marco no tratamento desse tipo de ocorrência nos Estados Unidos. Juntamente com os valores pagos antecipadamente, a prisão dos envolvidos, os testemunhos acusatório dos próprios policiais e a condenação prolatada em menos de um ano, construíram o novo paradigma na abordagem e tratamento dos casos de racismo estatal e policial envolvendo negros americanos.

O Brasil, por incrível que pareça, não ficou atrás. Na verdade, foi além. O processamento legal do Caso João Alberto Silva, assassinado na loja do Carrefour de Porto Alegre, em novembro de 2020, além da prisão e processamento dos responsáveis pela sua morte, da mesma forma, antes mesmo da condenação promoveu a indenização de todos familiares, e, num acordo extrajudicial feito num TAC – Termo de Ajustamento de Conduta – , assinado com o Ministério Publico Federal, Estadual, Ministério Publico Federal do Trabalho, Defensorias Publica Federal e Estadual, resultou na maior indenização por crime racial empresarial da história do país; e, um dos maiores do mundo.

Os R$ 115 milhões ajustados e os R$ 40 milhões anteriormente disponibilizados de forma voluntária, num fundo de reparação, resultaram no valor final de R$ 155 milhões, valor superior à indenização no Caso Floyd. Além disso, o Carrefour decidiu internalizar e requalificar toda a segurança, acordou a contratação de 30 mil funcionários negros e a formação de outros 80 mil entre ensino fundamental, médio e universitário e a formação em letramento racial dos seus gestores e fornecedores, no prazo de três anos.

Por outro lado, as medidas, construídas com a colaboração de um inédito comitê independente de quase uma dezena de experts negros estrelado pelo jurista Silvio e a executiva Rachel Maia, inauguraram a participação dos negros na mesa de estruturação das estratégias de gestão de crise, monitoramento e auditoria da ação empresarial. Da mesma maneira, a presença e participação de advogados e instituições negros na formulação e condução do Termo de Ajustamento de Conduta confirmam o fortalecimento dessa nova estratégia de intervenção que vem crescendo e consolidando paulatinamente.

Continua após a publicidade

Tudo isso fez com que o caso Carrefour elevasse a régua do racismo empresarial e tornasse seu novo patamar histórico. Lógico que essa fortuna não paga uma vida e não trará João Alberto de volta. Nem inocenta ou expia as culpas do Carrefour, seus funcionários e a empresa de seguranças envolvidos no episódio. Mas, certamente, inaugura um novo tempo e modifica de forma contundente o mantra de que a carne mais barata do mercado é a carne negra.

Igualmente, testemunha o fortalecimento do compromisso das instituições de justiça com a persecução e responsabilização do crime racial empresarial, e inaugura e sinaliza claramente para esses transgressores da igualdade racial, que a incúria custará caríssima no bolso, na reputação e na resposta legal. E, não menos importante e destacado; agora, junto com a denúncia e reivindicação contra a violência do racismo estrutural, nas ruas, os negros, definitivamente, passam a sentar nas mesas dos tribunais para promover e garantir a punibilidade e a reparação do racismo racial empresarial.

Disso, também, como bem definiu o Carrefour, não vamos e não podemos esquecer.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.