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Informação e análise
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Simone Tebet expõe projeto liberal com foco nas mulheres e na pobreza

Candidata mostrou agenda de governo para fome, educação, saúde, desigualdade de renda e de gênero, temas em geral monopolizados pela centro-esquerda

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 ago 2022, 07h52 - Publicado em 27 ago 2022, 06h00

Novidade na campanha eleitoral: representante da nova geração de políticos da centro-direita com programa liberal e discurso direto sobre pobreza, fome, educação infantil, saúde da família, desigualdade de renda e de gênero.

Foram candidatos da centro-esquerda que, nas últimas três décadas, praticamente monopolizaram o debate e as propostas sobre esses temas, centrais na agenda nacional.

Descontadas as torcidas, sempre legítimas, o fato é que Simone Tebet, do MDB, conseguiu apresentar um esboço dessa agenda de campanha, ontem, em entrevista na Rede Globo.

No espetáculo da política produzido nesta semana pelo Jornal Nacional, foi a primeira vez que alguém apresentou uma ideia objetiva, para crítica dos adversários, sobre um problema essencial na vida das mulheres — maioria no eleitorado, com 53% dos votos.

“Se eu virar presidente” — disse — “o primeiro projeto que eu vou pedir para pautar na Câmara dos Deputados é o da igualdade salarial entre homens e mulheres. A mulher ganha vinte porcento menos que o homem, exercendo a mesma função, a mesma atividade. Se for negra, se for preta, ela recebe quarenta porcento menos. Me explique qual é a lógica disso.”

Acrescentou, com uma nota pessoal de frustração: “Não é só por ela, não é só pelo reconhecimento. Vinte porcento disso vai direto para o mercado, vai direto pra economia. Isso gera emprego direto, indireto. Qual é o problema? Nós estamos há vinte anos lutando por [aprovação de] um projeto desses, e não conseguimos. Se eu for eleita, essa é a prioridade número um em relação à pauta feminina.”

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Simone Tebet batalha por espaço na centro-direita com um cardápio econômico e social original, montado com a ajuda de “economistas liberais”, como define. Relatora no Senado de um projeto de lei de Responsabilidade Social, costurado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), propõe um governo com foco na avassaladora pobreza: “Pode faltar dinheiro para qualquer coisa, mas não pode faltar dinheiro pra acabar com a miséria. A pobreza nós vamos diminuir. A miséria nós vamos acabar.”

Exemplifica: “Vamos construir um milhão de casas. São duzentos e cinquenta mil casas por ano para famílias [com renda] de até um salário mínimo e meio [cerca de R$ 1,8 mil por mês]. Quanto isso custa? Lembrando que o município dá o terreno, a estrutura e a União entra com a Caixa Econômica, com esse valor subsidiado. Exatamente o valor do orçamento secreto por ano. Nós chegamos a [fechar] essa conta só acabando com o orçamento secreto.”

“Em relação à transferência de renda permanente”— continua —, “já está precificado. O mercado já sabe que nós vamos ter que no ano que vem extrapolar o teto [de gastos públicos] nesse valor, algo em torno de sessenta bilhões para cobrir essa transferência de renda. Porque, de novo, não é admissível nós não garantirmos pelo menos seiscentos reais para quem tem fome.”

Orçamento secreto ou paralelo é símbolo de uma luta pelo poder do governo com o Congresso já anunciada por candidatos da oposição. Lula, do PT, e Ciro Gomes, do PDT, acham possível resolver por “negociação”. Simone Tebet supõe que, além disso, é necessária a exposição das contas à luz do sol, sob a força da caneta presidencial. “Não é com diálogo só, é com transparência, com um único ato, uma portaria exigindo que todos os ministros abram as contas de seus ministérios.”

“Por que o dinheiro está indo para um município pequenininho, onde não tem imprensa?” — prossegue. “Por que que não está chegando o serviço lá? Quem é que foi que mandou? Chegou o dinheiro? Dou um exemplo que parece uma anedota (…) Para poder receber muito dinheiro do orçamento secreto, para aumentar lá o teto [de gasto], o prefeito de uma cidade disse que extraiu catorze dentes da boca de cada habitante do município.”

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“É a cidade mais banguela do planeta. Catorze dentes, do bebê ao idoso de noventa anos, na cidade mais banguela do Brasil. Para quê? Para receber o dinheiro e emitir nota fria. Não é volta de dez porcento, é cem porcento embolsado. Dinheiro que vai para o bolso, dinheiro do remédio que não tem no posto, na creche, no posto de saúde. A partir do momento que a gente abre essas contas, a gente basicamente coloca os órgãos de fiscalização, e o orçamento secreto acaba rapidinho.”

Um governo, julga, tem obrigação de transmitir mensagens dessa natureza, para avançar em reformas sociais. Professora, acha que é preciso “dizer para a classe política: ‘Façam uma Educação de qualidade para salvar o povo brasileiro'”.

“Qual é a o direito social mais importante do cidadão?” – argumentou. “É o direito ao trabalho. Não tem trabalho que não tenha qualificação, ou tem um subtrabalho.” Na entrevista ao Jornal Nacional lembrou um episódio singular de campanha em Brasília, numa favela vizinha ao Palácio do Planalto.

“Fui visitar uma creche”, contou, “bancada sozinha por uma mulher. Era esgoto a céu aberto em todas as ruas. Sabe o que que eu ouvi daquela mulher? Eu falei assim: ‘Hoje eu vim aqui pra ouvir vocês’. Ela chegou e falou assim: ‘Olha, então você vai ouvir o seguinte: eu não quero só seiscentos reais, porque os seiscentos reais só dá pra comer. O que eu quero é dignidade porque o meu filho, quando vai buscar emprego, ele até é recebido. Mas quando eles olham e veem onde ele mora, a primeira coisa que eles fazem é olhar o sapato do meu filho, para ver se ele não está trazendo esgoto pra dentro do ambiente’. É essa a realidade que nós temos que mudar e não vai ser só com seiscentos reais.”

A um mês da eleição, e navegando nas pesquisas a uma distância telescópica dos adversários Lula e Bolsonaro, a candidata do MDB pode não mudar a contabilidade eleitoral, mas  Simone Tebet entrou no jogo exibindo disposição de abrir uma vereda liberal à renovação da centro-direita, fragmentada desde a ascensão do bolsonarismo.

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