“O próximo governo vai herdar o que os economistas chamam de tensão fiscal em grau elevado. Terá de fazer face a gastos reprimidos e aos efeitos de medidas de ampliação do gasto ou redução de receita que afetam de modo duradouro as contas públicas. Há uma certa bagunça na área fiscal que o próximo governo vai ter que enfrentar. Não é, entretanto, uma situação impossível. Dá para consertar. Porque também há um pouco de exagero quanto à extensão do problema fiscal no Brasil. Isso faz parte da ideologia econômica dominante, super-enfatizar a restrição fiscal. Ela existe, mas o Estado não está quebrado, não está em colapso. Tem condições de se organizar (…) Caso Lula vença as eleições, será importante reexaminar com cuidado e rever a Lei do Marco Cambial, aprovada no governo Bolsonaro. Passou batido e sem discussão adequada. O marco cambial tem vários problemas. Ele autoriza o Banco Central a permitir a abertura de contas e operações em moeda estrangeira no território nacional por livre decisão. Poderes que antes estavam no Conselho Monetário Nacional foram transferidos para o Banco Central, esvaziando-o. Isso precisa ser repensado. O marco cambial é um perigo para a soberania monetária brasileira, não pode ficar como está.”
(Paulo Nogueira Batista Jr., economista, à revista da Fundação Perseu Abramo, do Partido dos Trabalhadores. Durante os governos do PT, entre 2007 e 2015, ele foi diretor-executivo no Fundo Monetário Internacional e, depois, vice-presidente do Banco de Desenvolvimento criado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, grupo de nações conhecido como Brics.)