No governo, o plano é ganhar nas urnas e vender a Petrobras
Para governistas, o controle de preços ajudaria na reeleição, com bônus extraído das urnas: uma frente bilionária de negócios num eventual segundo mandato
No comitê instalado no Palácio do Planalto para a reeleição de Jair Bolsonaro, a lógica que prevalece hoje é a seguinte:
* A venda da Petrobras é um objetivo real para o novo governo, caso o candidato vença nas urnas em outubro;
* Para obter um novo mandato, é fundamental que o candidato imponha um controle de preços dos combustíveis com efeitos práticos e perceptíveis para os eleitores nos próximos três meses de campanha;
* Não se considera o controle de preços prejudicial ao plano de privatização da companhia de petróleo.
Isso porque eventuais compradores estrangeiros, em sociedade com grupos privados nacionais, teriam margem de lucro assegurada a partir de cortes de pessoal, de salários e gratificações e, também, com a redução dos níveis de ineficiência operacional, estimada acima de 30% em algumas unidades.
Se vai dar certo, não se sabe. Falta combinar com a “entidade” conhecida como mercado mundial de petróleo.
Por enquanto, isso é pouco relevante na perspectiva do candidato à reeleição e de seus principais aliados. É problema para ser resolvido depois da contagem de votos.
No momento, o que está em jogo é o controle do poder. Na planilha eleitoral de Bolsonaro, o risco e o custo compensam, se o benefício for a sua transformação, aos olhos dos eleitores, de culpado pela alta dos combustíveis em uma espécie de herói por conseguir realizar a “missão” quase impossível: controlar os preços do gás de cozinha, da gasolina e do óleo diesel até a eleição, pelo menos.
Esse é o foco da sequência de iniciativas em andamento, fomentadas em conversas de Bolsonaro com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, mais o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, abrigado no Partido Trabalhista Brasileiro.
Eles compartilham a aflição eleitoral de uma candidatura que há um ano está praticamente estacionada nas pesquisas de intenção de voto, num segundo lugar distante cerca de 20 pontos porcentuais do líder, Lula.
Governo e oposição transformaram a empresa de petróleo em vilã da campanha. E, no Palácio do Planalto, a premissa na operação eleitoral é a de que se Bolsonaro “não fizer”, corre o risco de assistir ao adversário petista realizar o controle de preços, se Lula ou qualquer outro ganhar a eleição.
Antecipando-se, acredita o quinteto governista, haveria uma chance real de avanço na empatia do eleitorado. Com um bônus político extraído das urnas: a abertura de uma frente bilionária de negócios para desenvolvimento num segundo mandato, se houver.
É amplo o cardápio de medidas imaginadas, do qual Arthur Lira, presidente da Câmara, e seu antigo instrutor, o ex-deputado Eduardo Cunha, são os mais veementes defensores.
Começou na redução do imposto estadual (ICMS) e passa por taxação das exportações de petróleo.
Nesse mosaico eleitoral, um componente seria o subsídio direto da empresa. Ela poderia vir a assumir, diretamente, os custos da diferença entre o preço de compra no exterior, em dólar, e o da venda no mercado interno, em real. Ou, então, ser beneficiária em operações de compra de dólares no Banco Central.
Um espantalho político é a ideia de nova CPI da Petrobras. Seria a quinta em uma década — as últimas foram alvos de investigação por corrupção de parte dos parlamentares integrantes.
Bolsonaro voltou a falar na comissão parlamentar de inquérito, ontem, em conversa com apoiadores: “Eu estou acertando uma CPI na Petrobras. [Dizem:] ‘Ah, mas foi você que indicou o presidente’. Sim, mas quero CPI, ué, por que não? Investiga o cara, pô. Se não der em nada, tudo bem. Mas os preços da Petrobras são um abuso”.
Na tradição parlamentar, sabe-se como uma CPI começa, mas é impossível imaginar como termina. Aliados de Bolsonaro descartam a ideia: temem, entre outras coisas, que uma nova CPI da Petrobras proporcione a reprise do conjunto de casos de corrupção na empresa.
Como Bolsonaro deve lembrar, muitos dos seus principais aliados foram protagonistas do escândalo político conhecido como Petrolão, nos governos do PT.