Lula e Bolsonaro ajudam a alavancar o candidato Moro
Introduziram na campanha um tema — corrupção — predileto do ex-juiz e que não está nas prioridades do eleitorado, preocupado com a pobreza e a inflação
Lula, Partido dos Trabalhadores e Jair Bolsonaro estão ajudando a alavancar a candidatura de Sergio Moro.
Lula e o PT resolveram presentear o ex-juiz resgatando a Lava Jato como tema de campanha. Acionam a militância para acompanhar Moro com um coro (“Juiz ladrão”) e intensificam a produção de propaganda de versões (“A verdade”) negacionistas sobre a roubalheira na Petrobras.
Já Bolsonaro usa o léxico como pode (“incompetente”, “palhaço”) e diz que Moro não aguenta dois minutos de debate. Em 2018, Bolsonaro não compareceu a nenhum e, recentemente, sugeriu a possibilidade de participação em algum, mas com regras proibitivas sobre temas de sua escolha, como os negócios de família.
Ataques fazem parte do jogo eleitoral, mas têm consequências. No caso, forçam a introdução na campanha de temas — corrupção e Lava Jato— que não estão no topo da lista de prioridades do eleitorado, cuja maior preocupação no momento, indicam as pesquisas, é com a sobrevivência numa etapa de empobrecimento crescente, desemprego recorde e inflação em alta.
Aparentemente, é conveniente ao petismo e ao bolsonarismo. Por razões diferentes.
Para Lula e o PT a gritaria antiMoro tem potencial de animar a militância e mitigar cobranças sobre propostas alternativas para a crise econômica, que é o que realmente interessa ao eleitorado.
Para Bolsonaro é apropriado porque permite driblar explicações sobre o desgoverno da inflação, na sequência do pandemônio governamental na pandemia, origem da sua elevada rejeição eleitoral.
Para Moro é adequado. Corrupção e Lava Jato deram-lhe visibilidade e sedimentaram o terreno no qual avança nas pesquisas e no reconhecimento dos políticos — hoje, por exemplo, se reúne com o governador de São Paulo, João Doria, candidato presidencial do PSDB.
Na discussão da Lava Jato, Moro vai sempre lembrar ao eleitorado que prendeu políticos e empresários com base em documentos, testemunhos e confissões, com bilhões de reais devolvidos, e em decisões referendadas por uma novena de juízes de tribunais superiores — inclusive do Supremo.
Poderá contar histórias de investigações, eventualmente incômodas aos adversários, sobre maracutaias em diferentes governos.
Políticos que estiveram com Moro nos últimos dias relatam que o candidato presidencial do Podemos só não agradece a Lula, PT e Bolsonaro porque em duas décadas no Judiciário aprendeu a desconfiar da própria sombra.
Exagero, certamente. Não faz muito tempo, Moro, o ciclista distraído de Curitiba, pedalou e acabou no Ministério da Justiça de Bolsonaro.