Lixo e luxo no ‘front’ da campanha presidencial
Orlando Brito foi singular na maneira de olhar a política. Deixou um acervo relevante para compreensão da história contemporânea
De manhã saiu à caça do melhor ângulo de Lula, candidato do PT, em visita a uma central de reciclagem de lixo na periferia de Brasília. À tarde pôs no foco Jair Bolsonaro, candidato a reeleição, num evento no Palácio do Planalto.
“Estamos exatamente a um ano da eleição”, comentou com um amigo, a quem mostrou as imagens e contou detalhes daquele sete de outubro da última primavera no Cerrado. Relutava em escrever na primeira pessoa. Achava antiquado, mas se rendeu às circunstâncias que sugeriam um depoimento.
“Enfim, foi assim que nessa quinta-feira, com minha profissão pendurada no pescoço, vi de perto dois momentos, a performance de dois homens, dois extremos, dois candidatos, na mesma cidade e no mesmo dia” — descreveu no site Os Divergentes. “Fui do chão de barro ao piso de mármore. Da central de reciclagem de detritos ao palácio presidencial. Como se diz, do lixo ao luxo. Ah, lembro-me que tanto Lula quanto Bolsonaro fizeram referência ao papel higiênico.”
Orlando Brito, 72 anos, ex-editor de Fotografia de VEJA e de inúmeras publicações, não teve tempo suficiente para finalizar seu quinto livro, “Do Marechal ao Capitão”, síntese em imagens da gente comum nas ruas de Brasília e dos donos do poder nas últimas seis décadas — do golpe militar de 1964, com o marechal Castello Branco, ao terremoto eleitoral de 2018, com o capitão-sindicalista Jair Bolsonaro.
Foi singular na maneira de olhar a política — “sempre direto do front”, dizia com a expressão de menino hipnotizado por um saco de pipoca. Deixou ontem um acervo jornalístico relevante para compreensão da história contemporânea.