O avanço da inflação e a debilidade da economia incomodam Lula mais do que as dores decorrentes de uma inflamação recorrente no joelho.
Ele considera “um desastre” a perspectiva de atravessar os próximos 24 meses com um dos mais baixos desempenhos econômicos entre países em desenvolvimento.
Essa possibilidade, lembrou em reunião nesta quarta-feira (8) com chefes de partidos que apoiam o governo, foi delineada pelo Fundo Monetário Internacional em projeções divulgadas em Washington, na semana passada.
No cenário do FMI, a economia brasileira deve crescer 1,2% neste ano e 1,5% em 2024, ano de eleições municipais. Seria metade da média das últimas três décadas.
Lula citou o relatório, não comentou os números, mas deixou transparecer preocupação: “O que posso dizer para vocês é que confio que a economia vai voltar a crescer. Depende muito de nós.”
Evitou falar do avanço da inflação. As informações que recebe do próprio governo e de instituições independentes convergem para a continuidade de uma situação crítica no padrão de consumo das famílias mais pobres.
Um retrato dessa corrosão inflacionária está na pesquisa de janeiro do Dieese órgão mantido pelo movimento sindical há 68 anos.
No primeiro mês do governo Lula, um trabalhador de São Paulo remunerado pelo salário mínimo (R$ 1.302,00), depois do desconto (7,5%) para a Previdência Social, precisou gastar 65,6% do salário para adquirir uma cesta básica de alimentos, suficiente para alimentar um adulto durante um mês. Em janeiro do ano passado ele gastava 63,6%.
A inflação atual é herança do governo Jair Bolsonaro. Nos últimos 12 meses até janeiro, o Dieese registrou aumentos de preços em 11 dos 13 produtos da cesta básica de alimentos — as maiores altas: batata (63,37%), farinha de trigo (38,55%), feijão carioquinha (31,58%), leite integral (29,56%).
A aflição de Lula tem origem na possibilidade de persistência desse processo de corrosão inflacionária num ambiente de crescimento econômico pífio, como previsto pelo FMI, pelos próximos dois anos.
Aos chefes de partido disse que pretende “fazer a roda gigante da economia funcionar” o mais rápido possível. Pretende começar com anúncios na próxima semana de retomada de obras públicas semiacabadas — “algumas faltam 20%, 15%”, comentou.
O governo federal possui oito mil escolas, postos de saúde e estradas nessa situação em todos os Estados, na contagem do Tribunal de Contas da União.