Fernando Haddad, 61 anos, está na pista. De novo.
Nesta quarta-feira (27/11), o ministro da Fazenda gastou sete minutos e meio em cadeia nacional de rádio e televisão para falar aos “queridos brasileiros e brasileiras” – nessa ordem–, às “famílias brasileiras” e à “nossa gente”.
Fez um discurso ancorado no verbo “garantir”, permeado pela ideia de “justiça” (oito citações), e amparado em promessas de “eficiência” e de avanços”. Tudo amarrado num apelo em tom religioso: “Tenham fé!”
Ele usou 900 palavras para emoldurar sua mensagem principal, um privilégio tributário: “Parte importante da classe média, que ganha até R$ 5 mil por mês, não pagará mais Imposto de Renda.”
É anúncio importante, com relevância suficiente para deixar políticos muito mais intrigados com a ausência de Lula na tevê e no rádio do que com o protagonismo do ministro da Fazenda.
Dizer à classe média que ela “não pagará mais” Imposto de Renda sobre a maior parte da sua renda não é pouca coisa, tem valor de presente pré-natalino. É decisão de governo com peso político específico, com endereço certo e conteúdo voltado para o futuro.
Numa analogia com futebol, do tipo que Lula gosta de fazer diariamente, equivale a bater pênalti e correr para o abraço da galera. Como ensinou o filósofo do futebol Neném Prancha, Antônio Franco de Oliveira, pênalti é tão importante que devia ser cobrado pelo presidente.
Lula estava na cena, mas em segundo plano. Na tevê, visível no retrato na parede. No rádio, na monofonia do ministro, picotada por um esquisito fundo de dissonância musical, ao lembrar dos “compromissos assumidos” na campanha eleitoral de 2022.
A exposição de Haddad, naturalmente, produziu especulações em Brasília. A ausência e substituição de Lula muito mais.
Descontados os motivos imaginários, resta um fato: o petista Haddad, mais uma vez, está na pista.