Governo desvaloriza aquilo que planeja vender
Previsões oficiais: Petrobras vai valer zero "daqui a 30 anos" e nenhuma empresa vai se interessar em comprar os Correios dentro de três anos
Jair Bolsonaro acha a Petrobras “um problema”. Presidente em fim de mandato sonha mudar o estatuto e a política de preços da companhia, mas teme a implosão do governo e da candidatura à reeleição.
A empresa precisa ser vendida, acha Paulo Guedes, ministro da Economia, que justifica: “A Petrobras vai valer zero daqui a 30 anos”.
Pelas previsões do governo, os Correios devem desabar bem antes. Dentro de três anos, acha Fábio Faria, ministro das Comunicações. É quando “nenhuma empresa [privada] vai se interessar” em comprar essa estatal, avisou ao Senado.
Ter planos não é ruim e batalhar por eles é legítimo. Mas até agora, por exemplo, o governo Bolsonaro não apresentou nada sobre a Petrobras, além de alegrar especuladores nas bolsas de valores com anúncios sobre futuros aumentos de preços dos derivados e sobre a eventual privatização. Não divulgou um estudo sequer.
Da mesma forma, mantém indefinido o valor de referência para a venda dos Correios.
Configura-se um estranho caso de vendedor em campanha permanente para desvalorizar o produto que expôs na vitrine. É um padrão de comportamento inadmissível no setor privado.
Para um vendedor, não existe um fundo do poço na vida, ele deve e precisa sonhar — ensina Arthur Miller em “A morte do caixeiro-viajante”.
Aparentemente, insistir no mesmo erro várias vezes virou moda na Esplanada dos Ministérios. O governo poderia ao menos demonstrar preocupação com a descoberta de alguns novos para cometer.