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Informação e análise
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EUA preparam ‘defesa’ contra Rússia e China na América do Sul

"Tomaremos medidas para defender a nossa segurança e os nossos interesses nacionais", anuncia Brian Nichols, subsecretário de Estado

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 mar 2022, 00h45 - Publicado em 21 mar 2022, 08h32

Os Estados Unidos decidiram bloquear iniciativas da Rússia e da China para expansão da influência política, econômica e militar na América Latina — e, principalmente, em países da América do Sul.

A guerra de Vladimir Putin na Ucrânia levou o governo americano a rever as relações com governos da região sob critérios mais estritos dos interesses dos EUA, com reflexos diretos em decisões de política externa, cooperação militar e de investimento privado.

A mensagem mais recente, e eloquente, foi transmitida na semana passada por Brian Nichols, subsecretário de Estado para o Hemisfério Occidental, num evento em Washington promovido pela Diálogo Interamericano, organização com histórico de quatro décadas de influência na política de Washington para a América Latina.

Nichols respondia aos pesquisadores Michael Shifter e Manuel Orozco sobre jogos de guerra com a Rússia que arrastaram a América Latina para o centro de um embate diplomático sobre a disposição de arsenais nucleares no mapa-múndi.

“Eu não gostaria” — disse o subsecretário de Estado — “que houvesse ameaças, nem mesmo veladas de altos funcionários russos, de que eles tentariam tirar vantagem de suas associações em nosso hemisfério na tentativa de desestabilizar nosso hemisfério ou ameaçar os Estados Unidos com armas estratégicas.”

Acrescentou: “Deixe-me ser absolutamente claro a esse respeito: é inaceitável. E tomaremos medidas para defender a nossa segurança nacional e os nossos interesses nacionais.”

O debate sobre a possibilidade de instalação de sistemas de armas nucleares russas na vizinha Venezuela, na Nicarágua e em Cuba, a 150 quilômetros de Miami, ganhou moldura na virada do ano, exatos 54 dias antes da invasão da Ucrânia. Foi quando Putin, em reunião com jornalistas estrangeiros, apresentou suas alegações de poder militar e de segurança nacional para o confronto, até então diplomático, com os países integrantes da Otan, aliança militar liderada pelos EUA desde a Guerra Fria.

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“Como se sentiriam os americanos, se puséssemos nossos mísseis na fronteira entre o Canadá e os EUA, ou na fronteira entre México e EUA?” — provocou. “A questão é a segurança. O que nos importa não não é o curso das negociações [com os EUA e a Otan], e sim o resultado (…) Já ocorreram cinco ondas expansão [do arsenal] da Otan. Agora há sistemas na Romênia e na Polônia e dizem que na Ucrânia também haverá sistemas [de armas nucleares], pela Otan ou por uma base de acordo bilateral.

Duas semanas depois, Putin assinou com o líder chinês Xi Jiping uma declaração densa que projeta uma aliança entre potências nucleares, acenando aos países de médio desenvolvimento com uma liderança alternativa à dos EUA.

Ele voltava de Pequim quando o vice-chanceler russo, Serguei Riabkov, numa entrevista ao canal de televisão RTVI, de Moscou, usou a força da ambiguidade sobre a eventual instalação de armas nucleares em países como Venezuela, Cuba e Nicarágua: “Não quero confirmar nada, mas tampouco não vou refutar nada.”

De Washington, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, retrucou com uma dúzia de palavras: “Se a Rússia se mover nessa direção [para a América Latina], vamos enfrentá-la de forma decidida.”

Dias antes da invasão da Ucrânia, Putin recebeu, separadamente, Jair Bolsonaro e Alberto Fernández, presidente da Argentina.

Ambos já haviam deixado Moscou quando o vice-presidente do Comitê de Defesa do parlamento russo, Alexei Zhuravliov, reiterou à agência paraestatal Sputinik a disposição do Kremlin de instalar armas nucleares na América Latina, em resposta a um eventual avanço da Otan na Ucrânia.

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Sergei Lavrov
Sergei Lavrov, chanceler da Rússia: “A China, o Brasil, a Rússia, Índia e o México estão entre os que não querem ser obrigados a prestar continência” — (Aziz Karimov/Getty Images)

A guerra mudou a perspectiva de Washington sobre a expansão da influência da Rússia e da China na América Latina.

Moscou, aparentemente, não pretende recuar da expectativa de alianças, explicou o chanceler Sergei Lavrov dias atrás: “Há países que não concordam com [a ideia de] uma aldeia global com um xerife americano. A China, o Brasil, a Rússia, Índia e o México estão entre os que não querem ser obrigados a prestar continência [a Washington].”

Três semanas de guerra mudaram o mundo, com reflexos já evidentes — e outros previsíveis — para o Brasil. No entanto, o debate dos interesses nacionais nessa nova ordem emergente continua à margem da agenda política doméstica.

Na temporada eleitoral, governo, Congresso e candidatos à presidência da República estancaram num efeito tópico da guerra de Putin — a conjuntura preço dos combustíveis.  Ainda assim de forma muito restrita: discutem subsídio a combustíveis fósseis e não aos alimentos, já em alta. Seguem estacionados no velho mundo, sem olhar para o futuro que começou a ser desenhado no campo de batalha ucraniano.

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