Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

José Casado Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por José Casado
Informação e análise
Continua após publicidade

EUA advertem governo Bolsonaro sobre ameaças às eleições

A preocupação de Washington com a estabilidade da democracia virou tópico relevante nas relações Brasil-Estados Unidos

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 Maio 2022, 13h50 - Publicado em 19 Maio 2022, 08h00

Robert Menendez, 68 anos, filho de imigrantes cubanos e senador por Nova Jersey (EUA), é reconhecido em Washington como um “linha-dura” — contra líderes autocratas.

Preside o influente Comitê de Relações Exteriores do Senado americano há quase uma década, desde a saída de John Kerry, atual negociador de Joe Biden para o acordo climático.

Ontem, Menendez comandou a sabatina de Elizabeth Bagley, ex-assessora de Kerry no governo Obama, indicada por Biden para ser a embaixadora no Brasil. Foi direto:

— Deixe-me fazer uma pergunta sobre as tentativas do presidente Bolsonaro de minar a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro. Se você for confirmada [pelo Senado, como embaixadora], que medidas você tomaria para garantir e apoiar a integridade e os resultados das eleições no Brasil?

Continua após a publicidade

Bolsonaro tem dito muitas coisas, mas, basicamente, o Brasil tem sido uma democracia — ela respondeu. — Eles têm instituições democráticas, eles têm um sistema eleitoral democrático, eles têm um Judiciário independente, um Legislativo independente, eles têm liberdade de expressão e de reunião. Então, eles têm todas as instituições democráticas necessárias para ter uma eleição livre e justa. Já fiz vários monitoramentos eleitorais [no exterior], e eu sei que não vai ser um momento fácil por causa de vários comentários dele. Mas, subjacente a todos esses comentários, há uma base institucional real e acho que o que vamos continuar a fazer é mostrar nossa confiança e nossa expectativa de que eles terão uma eleição livre e justa, e estamos fazendo isso em todos os níveis.

Menendez remarcou: — Quando o líder de um país tenta minar — como experimentamos aqui nos Estados Unidos — a validade e a veracidade das eleições, ele mina o processo democrático naquele país. Então, eu espero que não tenhamos receio de desafiar isso no final do dia.

Esse diálogo contém, provavelmente, a melhor tradução da imagem de Jair Bolsonaro no Congresso e no governo dos Estados Unidos.

Continua após a publicidade

Nele estão resumidas, também, expectativas de parte da elite política de Washington sobre a resposta das instituições brasileiras, do governo Biden e do Partido Democrata, à eventual tentativa de tumulto do processo eleitoral.

Sobram advertências, diretas ou na linguagem cifrada da diplomacia, transmitidas até por canais inusuais, como a direção da agência de espionagem, CIA, ou o Departamento de Comércio.

Don Graves, secretário-adjunto de Comércio, repetiu a mensagem ontem em Brasília, introduzindo empresários nesse jogo político: “A comunidade de negócios também acredita que o Brasil terá eleições livres e justas e que a relação continuará firme como antes.”

Continua após a publicidade

A preocupação com a estabilidade  da democracia virou tópico relevante nas relações Brasil-Estados Unidos. Paradoxalmente, por causa de um governo que se diz liberal, cujo líder disputa a reeleição pelo Partido Liberal e tem apoio parlamentar de partidos auto-identificados como de centro-direita, agrupados no Congresso numa massa disforme apelidada de Centrão.

O flerte de Bolsonaro com o tumulto institucional, eventualmente protagonizado por “nós, as Forças Armadas e auxiliares” — como ele tem repetido —, tem ocupado boa parte da agenda dos funcionários americanos enviados a Brasília nos últimos dez meses, e concentrado a atenção dos serviços de informações no Rio, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife.

Quando o presidente do Comitê de relações Exteriores do Senado dos EUA fala em público sobre a expectativa “de que não tenhamos receio de desafiar”, caso se concretize o tumulto anunciado por Bolsonaro, parece fazer eco às posições da bancada democrata na Câmara.

Continua após a publicidade

Sete meses atrás, 63 deputados assinaram uma carta ao governo Biden sugerindo a suspensão ou revogação do acordo Bolsonaro-Trump que ampliou as possibilidades de acesso das Forças Armadas brasileiras ao empório tecnológico de guerra americano.

Justificaram: “Nós precisamos nos assegurar de que não estamos fortalecendo um Exército que, amanhã, pode romper com o processo democrático”.

Há 58 anos, Washington se movia em sentido oposto.

Continua após a publicidade

Pouco depois do meio-dia da terça-feira 31 de março, o comandante em chefe da Esquadra do Atlântico recebeu ordem de deslocar uma força-tarefa, com porta-aviões à frente, para a “área oceânica nas vizinhanças de Santos, Brasil”.

Revelado doze anos depois pelo jornalista Marcos Sá Correa, o plano havia sido autorizado pelo presidente democrata Lyndon Johnson, para dar apoio logístico à insurreição militar contra o governo “comunista” de João Goulart. A frota nem precisou a descer o Atlântico diante do êxito do golpe doméstico “pela democracia”.

Agora, a preocupação é com um governo de direita que insufla movimentos antidemocráticos.

Washington se move, com outra perspectiva.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.