Eleito no Peru promete moderação, mas não convence
Diplomatas em Lima acham que eleição de Pedro Castillo se deve ao rancor do eleitorado com o desgoverno na pandemia, que já matou mais de 160 mil pessoas
Governos tentam entender o resultado das eleições no Peru. Foram surpreendidos pela vitória apertada (50,17%) de um professor primário da província de Chota, Pedro Castillo, a ser confirmada na recontagem oficial de 220 mil votos.
Pedro Francke, assessor econômico de Castillo, passou a semana tentando convencer diplomatas brasileiros, argentinos, americanos e europeus de que, a partir da confirmação oficial do resultado, o futuro presidente vai montar um governo “moderado”, mais “ao estilo de Lula” — nas suas palavras — do que do falecido coronel venezuelano Hugo Chávez. Francke não convenceu.
Em Lima, diplomatas estrangeiros chegaram a um consenso: em todo o país, prevaleceu o rancor do eleitorado com o desgoverno na pandemia, que já matou mais de 160 mil peruanos, algo como um de cada 220 habitantes.
Para a maioria deles, a crise peruana está apenas começando. Haverá confronto com o setor privado e, com um Legislativo fragmentado como o brasileiro, o novo governo deverá tropeçar já na partida, se insistir na principal proposta de Castillo — promover um referendo para legitimar a convocação de uma Constituinte.
Não custa lembrar: o Peru está no quarto presidente dos últimos 38 meses. Pedro Pablo Kuczynski, eleito, renunciou em março de 2018 sob acusações de corrupção no caso Odebrecht. O sucessor, Martín Vizcarra, foi deposto por impeachment. Assumiu Manuel Merino, presidente do Congresso, que renunciou 24 horas depois, acusado de corrupção. O atual é Francisco Sagasti, parlamentar reconhecido como moderado.
Se confirmada a vitória nas urnas, considerada previsível na recontagem, Castillo assume no dia 28 de julho. Terá as próximas sete semanas para reverter a desconfiança sobre como pretende governar.