Bolsonaro prepara uma nova ofensiva contra a Petrobras
O importante não é a quimera — redução dos preços dos combustíveis numa canetada presidencial —, mas o tumulto e sua repercussão no eleitorado
Jair Bolsonaro prepara nova ofensiva contra a Petrobras.
Candidato à reeleição, ele quer mitigar o ônus eleitoral do descontrole dos preços dos combustíveis e de seus efeitos por toda economia.
Como o governo perdeu a bússola ou está limitado na gerência da inflação, Bolsonaro entende que a alternativa mais conveniente é culpar a Petrobras, controlada pela União com mais de 700 mil sócios privados, brasileiros e estrangeiros.
Ele avança na tentativa de transformar a empresa na grande vilã da temporada eleitoral — e, paradoxalmente, com a ajuda da oposição.
“A gente espera fazer mudanças de pessoas”, disse ontem. Não revelou quais, mas se referia à troca de dirigentes. Há cerca de duas centenas de executivos em postos-chave da companhia, que já teve três presidentes em um triênio do governo Bolsonaro.
Ele sonha com a Petrobras, voluntariamente, usando o próprio caixa para reduzir preços aos consumidores de gás de cozinha, gasolina e diesel.
Em sucessivas reuniões no Palácio do Planalto, dois ex-presidentes, Roberto Castelo Branco e Joaquim Silva e Luna, lhe explicaram que isso resultaria em endividamento. Argumentaram com o desastre financeiro da experiência de represamento de preços dos derivados durante o governo Dilma Rousseff. Bolsonaro sempre terminou as reuniões dizendo-se convencido. Na sequência, demitiu os executivos.
“A gente espera”, disse ontem, “buscar minorar, diminuir o preço do combustível no Brasil.” Acrescentou: “Deixo bem claro que está previsto em lei, é o caso da Petrobras, que ela tem que ter o seu papel social no tocante ao preço do combustível.”
Se mantém no sonho de uma “contribuição” voluntária da empresa, do qual seria beneficiário direto na campanha eleitoral. A realidade, porém, é bem mais complexa: seria preciso um “de acordo” dos sócios minoritários, nacionais e estrangeiros.
Inviável, tanto quanto a Opep reduzir preços mundiais para atender à aflição do candidato presidencial pelo Partido Liberal no Brasil.
Rendido à realidade, Bolsonaro programa avançar contra a Petrobras em outro front, o Judiciário, com iniciativas de repercussão certa na campanha eleitoral.
No desenho jurídico do Planalto, o comitê central da reeleição, se prevê um despacho da Advocacia-Geral da União, acompanhado por ato presidencial, vinculando as decisões sobre aumentos de preços de combustíveis à análise e concordância prévia de instâncias governamentais e regulatórias, no caso a Agência Nacional de Petróleo.
Para tanto, se declararia uma forma de regime de exceção setorial, sob argumento de ameaça ao equilíbrio da economia nacional.
Ainda não há decisão final, mas avança o debate entre a AGU, a Casa Civil, a Economia e segmentos governistas do Congresso.
A contestação na Justiça tende a ser automática — caso a fórmula em discussão seja adotada —, mas isso já está “precificado” na conta política do governo e da campanha de Bolsonaro até o limite de uma eventual derrota no Supremo tribunal Federal.
“Vamos ter que recorrer à Justiça”, ele disse ontem. “Sabemos que, quando eu recorro, é quase impossível eu ganhar — isso, quando se coloca em votação”.
Na tática de campanha, importante não é a quimera — a redução dos preços dos derivados de petróleo numa canetada presidencial —, mas o ruído, o tumulto, e sua repercussão imediata no eleitorado.
Depois do anúncio da “privatização”, uma batalha judicial e pública contra a empresa-vilã e seus lucros “às custas” dos consumidores de gás de cozinha, diesel e gasolina, poderia ajudar a enevoar a realidade de um governo dos dois dígitos (11% de inflação, 12% de desemprego e 12,7% de juros) que fragiliza o candidato à reeleição, segundo as pesquisas.