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Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
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O Brasil rumo ao passado

Quem imaginaria que juízes e promotores estariam sendo mais perseguidos do que os próprios corruptos e corruptores desmascarados pela Lava Jato?

Por Jorge Pontes
Atualizado em 25 Maio 2022, 17h52 - Publicado em 25 Maio 2022, 11h50

Quem poderia, em sã consciência, imaginar esse abismo que estamos vivendo hoje no Brasil, às vésperas de uma eleição presidencial?

Há exatamente quatro anos, quando Bolsonaro, em campanha eleitoral, conquistava os votos de seus incautos apoiadores com um discurso veemente de combate à corrupção, surfando na onda moralizadora da Operação Lava Jato, ninguém imaginaria o cenário de terra arrasada que enfrentamos agora, nessa questão em especial, muito em parte por responsabilidade do próprio Bolsonaro, que hoje em dia nem mais menciona a palavra “corrupção” em seus pronunciamentos.

Quem imaginaria que Sergio Moro estaria fora da magistratura, sendo alvejado por processos em diversas esferas, e que Deltan Dallagnol pudesse estar sendo cobrado em alguns milhões de reais pelos gastos (em diárias e passagens) de procuradores que recuperaram bilhões de reais para os cofres públicos?

Enfim, quem imaginaria que juízes e promotores estariam sendo mais perseguidos do que os próprios corruptos e corruptores desmascarados pela operação?

Quem imaginaria que a Lava Jato pudesse estar totalmente desmontada, e que a Polícia Federal pudesse estar aparelhada pelo presidente que se elegeu às suas próprias custas?

Quem imaginaria, por uma fração de segundo sequer, que Lula pudesse estar concorrendo como franco favorito para as eleições presidenciais, depois de ter todos os processos anulados pelo STF?

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E quem poderia imaginar que, seguindo a anulação dos processos de Lula, os tribunais superiores iriam sequencialmente anular processos criminais de corrupção e lavagem de dinheiro de outros políticos (que foram ultimados e confirmados por quatro instâncias, inclusive pelo próprio STF), o que viabilizou um retorno em massa de ex-processados e ex-condenados às assembleias legislativas e ao Congresso Nacional?

E quem poderia imaginar que a própria elite política brasileira, totalmente desmoralizada pela Lava Jato, iria articular – e até legislar – para que pessoas de bem não conseguissem sequer se candidatar, impedindo assim a possibilidade de renovação política no país?

Quem poderia pensar que, depois de escândalos como Mensalão e Petrolão, que drenaram bilhões em recursos públicos para os bolsos de políticos corruptos, o governo federal, eleito com o compromisso de combater tais malfeitos, pudesse encampar, com o apoio e gestão do velho Centrão, jogadas escusas como emendas parlamentares bilionárias, como o odioso orçamento secreto, que, grosso modo, trata-se, em volume de verbas, de um “Petrolão” sem intermediários e no varejo, redesenhado para seguir os passos de esquemas anteriores, de desvio de recursos públicos para os bolsos de políticos e empresários desonestos?

Quem poderia imaginar que teríamos mais de 5.000 militares em cargos comissionados no governo federal, inclusive generais de Exército, e que, depois de uma sequência de décadas de eleições presidenciais com o sistema de urnas eletrônicas, que correram sem nenhum problema, estaríamos sendo ameaçados por rupturas e intervenção militar, caso Bolsonaro não saia vencedor do pleito de outubro próximo?

Quem poderia imaginar que o que nos aguardava em um futuro de apenas quatro anos seria um mergulho no passado, um doloroso retrocesso, como um pesadelo daqueles do qual não conseguimos acordar?

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Quem imaginaria que as duas candidaturas favoritas ao cargo de presidente da República nessas eleições fossem esses dois abismos representados por Lula e Bolsonaro?

E, finalmente, quem poderia imaginar, depois de tudo que vimos, que os próprios eleitores, em sua grande maioria, ainda estivessem dispostos a sufragar os nomes desses dois e de muitos outros políticos desmoralizados?

Essa situação de desalento nos faz concluir que o investimento na educação dos nossos jovens é ainda muito mais urgente e relevante do que o enfrentamento à corrupção.

Afinal, são os baixos níveis de esclarecimento e de preparo intelectual da nossa sociedade que, em parte, a transformam em alvo fácil para políticos populistas. E esse estado de coisas funciona a favor dos defensores do atraso, pois a eles não interessa tirar o povo da escuridão. No Brasil a falta de educação não é uma longa crise pela qual passamos, mas um duradouro e bem-sucedido projeto de poder.

E vamos seguindo firmes, de vento em popa, rumo ao passado!

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