Temer e Trump são males menores que Dilma e Hillary
E isto nada tem a ver com sexo, queridas. Veja análise

Passada a maratona do impeachment, voltemos a dar uma olhadinha na corrida eleitoral americana.
Apoiador de Donald Trump, Ben Carson riu das declarações de Hillary Clinton sobre o candidato republicano não ser qualificado para assumir a presidência dos Estados Unidos.
.@RealBenCarson reacts to #HillaryClinton saying @realDonaldTrump is not qualified to be president. pic.twitter.com/XDyJaJCEk0
— Fox News (@FoxNews) 20 de maio de 2016
“Eu acho que isso é ridículo. O fato é que aí está uma pessoa (Hillary) que não tem discernimento suficiente para saber não colocar informações sigilosas num servidor privado, e ela está falando sobre algum outro indivíduo que não é qualificado? Uma pessoa que (como então secretária de Estado) não tem o discernimento de enviar ajuda ao consulado em Bengasi (na Líbia) quando eles (cidadãos americanos que lá atuavam) estão implorando por socorro? E depois que não tem o discernimento, quando o problema começa (um ataque terrorista perpetrado por aliados da Al-Qaeda), de fazer chegar o socorro? (Que) Simplesmente diz: ‘ah, não vamos fazer coisa alguma a respeito’? Nove horas depois, aqueles ‘Navy Seals’ (membros das forças de operações especiais da Marinha americana) estão no topo do complexo da embaixada, com o dedo no gatilho, dizendo simplesmente ‘se a gente ao menos conseguir aguentar, o socorro vai estar chegando’… Mas o socorro não ia chegar, não importa quanto tempo eles ficassem lá. Isso é um bom julgamento?”
Quatro americanos, incluindo o embaixador Christopher Stevens, morreram em decorrência do ataque de 11 de setembro de 2012 em Bengasi.
Cinicamente, Hillary Clinton e outros membros do governo Obama culparam o autor americano de um vídeo do Youtube crítico ao profeta Maomé pela fúria de supostos manifestantes, o que se revelou uma mentira deslavada em período eleitoral para evitar o vexame de revelar à população que a Al-Qaeda, ao contrário do que dizia Obama, ainda oferecia perigo.
Agora, enquanto Hillary acusa Trump de estar sendo “usado como ferramenta de recrutamento para que mais gente se una à causa terrorista”, o candidato republicano critica “o julgamento muito ruim” da adversária e também sua recusa de chamar de radicais islâmicos – ela se limita ao termo jihadista – os terroristas de grupos como Estado Islâmico e Al-Qaeda.
No embalo de apontar a insegurança no mundo, porém, Trump citou o caso do Airbus da EgyptAir, que caiu no mar Mediterrâneo com 66 pessoas a bordo durante um voo entre Paris e Cairo.
Embora um ataque terrorista seja apenas a mais provável das hipóteses ora investigadas pelas autoridades, Trump já tem uma conclusão específica a respeito:
“Se alguém pensa que o avião não foi explodido no céu, você está 100% errado, ok?”
Obviamente, o falastrão não precisava apontar mais que a hipótese de terrorismo para ilustrar a situação de aflição mundial sem ficar politicamente vulnerável a futuros desmentidos factuais, e menos ainda precisava especificar como e onde o avião se desintegrou com o possível ataque.
Precipitações como essas dão munição a Hillary para apontar – como ela vem fazendo – o padrão de irresponsabilidade dos comentários de Trump.
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O problema para Hillary é que uma grande parcela do eleitorado não apenas se diverte com frequentes exageros retóricos do maior provocador republicano – e Trump sabe muito bem disso –, mas também, a despeito das afetações de indignação da imprensa, considera-os irrelevantes em termos de gravidade quando comparados à cumplicidade politicamente correta da esquerda americana (política e midiática) com o terror.
Em pesquisa da Fox News divulgada na quarta-feira (18), Trump aparece pela primeira vez à frente de Hillary no confronto direto de intenções de votos, com placar de 45% a 42%, no limite do empate técnico pela margem de erro de três pontos percentuais.
Detalhe: a maioria dos eleitores, segundo a pesquisa, sente que nenhum dos dois têm fortes valores morais e que ambos dirão qualquer coisa para vencer a eleição.
Logo no começo da campanha, apontei o tom excessivamente dramático do conservador Ted Cruz como um problema básico para angariar a simpatia do eleitorado nacional, o que Trump, mesmo despertando ódio, conseguia fazer com espontaneidade e jovialidade raras de show man e seu histórico de homem prático e bem-sucedido, não de intelectual ou ideólogo com posições bem definidas sobre tudo.
Trump, assim como Cruz, nunca foi meu candidato ideal, mas seu padrão de comentários fanfarrões e eventualmente irresponsáveis está muito abaixo na minha hierarquia de gravidade do que o padrão de atos consumados de irresponsabilidade e cinismo de Hillary durante o período em que ocupou cargos de governo.
Em outras palavras: a inegável margem de incerteza sobre Trump me é muito menos preocupante que a margem de certeza sobre Hillary.
Embora a histeria do debate público imponha o endosso e a rejeição integrais como únicas opções possíveis, e interprete elogios ou críticas pontuais como uma dessas duas opções, pelo princípio do mal menor que rege o mundo político – e guardadas as devidas diferenças de cenário – neste momento sou Trump contra Hillary, Temer contra Dilma, e principalmente Constituição contra as duas, desde criancinha.
Que me acusem de “sexista” por essas escolhas em nada ligadas ao sexo, só reforça a minha torcida vigilante para que Trump e Temer salvem os EUA e o Brasil dessa gente que tanto nos divide.
Felipe Moura Brasil ⎯ http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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