Frase do técnico de Bernard – ‘Só chora, veio tomar dinheiro’ – educa brasileiros mais que o governo do PT
A vantagem do desastre do Brasil na Copa do Mundo é que agora os técnicos estrangeiros entendem muito melhor não só os nossos jogadores, o futebol e a torcida, mas indiretamente até a alma brasileira. As declarações do técnico do time ucraniano Shakhtar Donetsk, o romeno Mircea Lucescu, sobre o comportamento do jogador Bernard – que, assim como Douglas Costa, se reapresentou ao clube com alguns dias de atraso – transcendem o esporte e entram na linhagem histórica de descrições dos nossos compatriotas feita por gente do naipe de José Bonifácio de Andrada e Silva, Paulo Prado, Machado de Assis e Carlos Lacerda.
As duas primeiras são desta sexta-feira. A terceira, de agosto do ano passado.
1) “Bernard tem de demonstrar em campo que é homem. Ele só chora. Só veio tomar dinheiro. Ele sofre, mas creio que todos querem sofrer para ganhar 300.000 euros por mês.”
2) “Há jogadores talentosos, mas que não são preparados para o futebol mundial. A torcida aplaude um drible, não se importa com a organização tática. Não há juízo de valor, há juízo estético. Bernard declarou que eu não colocava os mais habilidosos para jogar? O talento precisa ser aliado à disciplina, ao coletivo.”
3) “Eu ainda não tinha encontrado nenhum outro jogador que não confraternizasse com ninguém da equipe, nem brasileiros, nem ucranianos. Com ninguém! A sensação é que ele é um jogador de Twitter e das redes sociais.”
A declaração 2, mais técnica, é uma síntese perfeita da radiografia do futebol brasileiro que fiz em 2011, após Barça 4 x o Santos, no artigo “O Brasil à luz do Barcelona“, em que antecipei o desastre da Copa, descrito em 2014 no artigo “Não, Galvão, não é ‘uma partida para ser esquecida’”. Aqui se cultua desde a Copa de 1982 a caricatura dos extremos: de um lado, o “craque” poético, que deslumbra a multidão com a plasticidade de suas jogadas individuais; do outro, o “marcador” troglodita, sem o qual o primeiro não teria tamanha liberdade. Um ataca, outro defende (descendo o cacete), e enquanto um faz a sua parte, o outro o observa, isento de maiores obrigações. Formam-se (o que nossos “professores” imaginam ser) zagueiros, laterais, volantes, meias ou atacantes, em vez de se formarem jogadores de futebol.
A declaração 1 sintetiza a mistura de ganância e parasitismo que atravessa os brasileiros – a primeira tão bem descrita por Paulo Prado em “Retratos do Brasil – Um ensaio sobre a tristeza brasileira”, a segunda por Machado de Assis, impiedosamente, em seus últimos livros. Prado mostrou como nosso país foi fundado por portugueses gananciosos e sem escrúpulos que vinham na esperança de enriquecer de qualquer jeito e depois voltar às suas terras de origem. Machado expôs uma gente mesquinha e parasitária que não trabalhava, nem tinha ambição de evoluir – tudo isto que mais tarde seria agravado com um ambiente cultural esquerdista em que todos querem direitos sem antes cumprir com seus deveres.
A declaração 3 ecoa a tese do próprio fundador do Estado nacional brasileiro, José Bonifácio de Andrada e Silva: “Os brasileiros mostram altivez nas baixezas, amor-próprio nas bagatelas e obstinação em puerilidades.” Durante a Copa já havia ficado clara a obstinação dos nossos jogadores por postar fotos na hora da concentração, mas parece que as puerilidades continuam.
Parabéns a Mircea Lucescu pelas “palmadas” fundamentais em Bernard, que aqui estendo a todos os brasileiros, anestesiados pela “pátria educadora” (corruptora, censora…) do PT.
Como dizia Carlos Lacerda:
“O Brasil é um homem que foi bêbado para a cama, dormiu tarde e mal, e precisa acordar bem cedo de manhã. Você tem que sacudi-lo, estapeá-lo. Se ficar fazendo festinha ele não levanta.”
* Veja também aqui no blog: A emoção erótica do brasileiro (e 20 motivos para evoluir).
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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