Vamos apenas lembrar a ordem de algumas coisinhas aqui. Comentei hoje no Twitter:
Agora lembremos:
Antes de ser colocada em prática no Brasil através do decreto 8.2.43, publicado no Diário Oficial da União no dia 26 de maio de 2014, a proposta de “gerar novos espaços de participação popular na gestão pública” já estava explícita na declaração final do XIX encontro do Foro de São Paulo, realizado no ano anterior, em 2013. Pela enésima vez, fica a tradução: por “participação popular”, entenda-se não a do povo, como os petistas fingem ser, mas a dos movimentos sociais controlados e financiados pelo PT, com o dinheiro do povo trabalhador.
“Temos que REPOSICIONAR O ESTADO e APROFUNDAR a democracia, ASSEGURAR A HEGEMONIA e a estabilidade política para a realização das MUDANÇAS e GERAR NOVOS ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR NA GESTÃO PÚBLICA e no cumprimento dos direitos básicos da população.”
O governo Dilma, submetendo a soberania nacional ao poder continental da entidade esquerdista, gerou os “novos espaços” para garantir o salto qualitativo que marca a passagem de qualquer regime para uma ditadura socialista de fato. Nas palavras do Foro: “Temos a convicção de que, continuando o aprofundamento das mudanças e acelerando a integração regional, podemos percorrer caminhos até o SOCIALISMO em nossa América Latina e no Caribe, o que seria uma obra original de nossos povos.”
Qual foi a reação de Marina Silva?
Veja, por exemplo, nesta reportagem do Estadão e da Exame:
– Marina elogia decreto de Dilma sobre conselhos populares
Ex-senadora disse que decreto foi editado com atraso e faz parte de uma “estratégia eleitoral”, mas elogiou a ideia
(…) “A participação da sociedade é algo muito bom em um País como o nosso, com essa dimensão territorial e diversidade cultural. É fundamental que os governos façam coisas com as pessoas e não para as pessoas. Mas isso é para ser feito ao longo de toda uma vida, e não apenas vinculado à eleição. É algo a ser cultivado, independente de ser estratégia eleitoral. É uma inovação na gestão pública”, afirmou a ex-senadora, líder da Rede Sustentabilidade.
O decreto prevê a criação de nove conselhos aos quais serão submetidas iniciativas como grandes obras e novas políticas públicas.
A medida tem sido criticada pelos partidos de oposição, que acusam Dilma de usurpar as atribuições do Poder Legislativo. Marina, no entanto, defendeu as consultas populares.
“Cada vez mais a sociedade exige compartilhamento da autoria, da realização. O decreto poderia ter sido feito antes, são 12 anos de governo (do PT). Mas antes tarde do que nunca. Nada está sendo dado de presente”, afirmou a ex-senadora.
No Jornal da Globo, mais recentemente, William Waack tentou pressioná-la para obter uma resposta definitiva sobre o assunto. Não conseguiu, porque Marina não dá respostas definitivas sobre coisa alguma. Tudo pode ser uma coisa ou o seu contrário ao mesmo tempo. Destaque para o trecho:
William Waack: A pergunta é: a senhora é a favor da democracia direta?
Marina Silva: E quem foi que disse? Eu sou a favor da combinação das duas coisas. A Constituição brasileira assegura as duas coisas. Nós não podemos achar que uma coisa é em prejuízo da outra. Pelo contrário. Há um processo de retroalimentação entre a participação do cidadão dos diferentes setores que enriquece o processo democrático e, obviamente, que temos que ter instituições que passam a ser o polo estabilizador da democracia.
Agora, no XX Encontro do Foro de São Paulo realizado na cidade de La Paz, na Bolívia, nos dias 25 a 29 de agosto, o PSB de Marina Silva foi representado pela assessora da Coordenação de Relações Internacionais do Partido, Lygia Di Moura.
Na introdução à sua entrevista ao portal do partido, o PSB faz notar o orgulho de ter sido “um dos fundadores do Foro em conjunto com o PT, na época presidido pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, e o então presidente [sic] cubano Fidel Castro. [O correto é ditador cubano, ok?] Em suas respostas, Lygia Di Moura repete os discursos de Lula e José Dirceu que eu havia mostrado aqui sobre a importância do Foro na conquista do poder continental pela esquerda; e depois fala sobre as divergências atuais entre PSB e PT em função das eleições no Brasil.
Portal PSB 40: Como dimensionar a importância do Foro de São Paulo?
Lygia Di Moura: Quando criado, apenas um membro do Foro ocupava o governo de um país, que era o Partido Comunista de Cuba. Hoje, a realidade é outra. Temos diversos partidos membros que chegaram até ao governo, como é o caso, no Brasil, do Partido dos Trabalhadores, do Partido Socialista do Chile, de Michele Bachellet, da Frente Ampla do Uruguai, de Pepe Mujica, dentre tantos. No total, são mais de dez partidos que hoje estão no poder. Podemos dizer que houve uma mudança na correlação de forças no continente, e não há como desconsiderar o papel que exerceu o Foro de São Paulo.
Portal PSB 40: Então pode-se dizer que esses partidos têm influenciado na realidade de seus países?
Lygia Di Moura: Penso que sim. A integração latino-americana é uma realidade que passa, de certa forma, pela aproximação (também político-ideológica) daqueles que estão no poder e, nisso a atuação do Foro tem sido essencial. O intercâmbio é bastante intenso. E desde que os partidos de esquerda chegaram ao governo de países da América Latina fortaleceu-se a integração da região, e não apenas a integração comercial, mas aquela baseada na solidariedade dos povos, na justiça social e na participação popular. Buscamos, no Foro, fortalecer instrumentos de integração como o Mercosul, a Unasul e a Celac, e os partidos no poder têm incorporado esse entendimento em suas políticas externas.
Portal PSB 40: Resumindo..
Lygia Di Moura: Ao final, coube ao Foro demonstrar que havia alternativa às políticas neoliberais adotadas na década de 90.
Portal PSB 40: E o PSB, tem atuação ativa?
Lygia Di Moura: Sim. Desde a criação do Foro, o PSB esteve representado em diferentes edições, e tem privilegiado, nessa participação, as relações bilaterais, o que faz parte de nossa tática de inserção partidária. O Foro é um excelente espaço para fortalecer os laços de cooperação com os partidos e organizações políticas da região.
Portal PSB 40: Como é a relação com os demais partidos brasileiros?
Lygia Di Moura: Além do PSB, por parte do Brasil integram o Foro o PT, PDT, PCdoB, PCB e PPS. Pode-se dizer que a relação é de cordialidade. Todos fazemos parte do campo progressista, apesar de mantemos nossas diferenças, interna e externamente. Entretanto, no que se refere à política internacional, nossos partidos têm adotado linhas centrais muito similares. A política internacional do PSB é baseada em certos princípios como a independência, a autodeterminação dos povos, a soberania dos Estados, a cooperação e a solidariedade internacional, além da oposição a qualquer sorte de intervencionismo. O mesmo é defendido pelos demais partidos. Mas, claro, isso não significa que não tenhamos nossas divergências, que se acentuam neste período de eleições.
Portal PSB 40: No último encontro do Foro, realizado em La Paz, essas divergências ficaram mais aparentes?
Lygia Di Moura: Pode-se dizer que houve uma drástica mudança no cenário e em nossas relações políticas. Na última vez em que participamos do encontro do Foro, que ocorreu na cidade de São Paulo, em julho do ano passado, integrávamos formalmente a base do governo Dilma. Não havia concorrência de projetos de poder. Entendemos que o PT coordena e está à frente de diferentes processos no Foro, mas, por outro lado, mantemos nosso espaço preservado, mantemos nossa relação bilateral com os partidos, que é nossa prioridade. Principalmente com aqueles que integram a Coordenação Socialista Latino-Americana.
Portal PSB 40: E a CSL?
Lygia Di Moura: A CSL é um encontro de partidos socialistas latino-americanos. A secretaria geral está a cargo do presidente do PSB, Roberto Amaral [veja foto dele no Foro ao lado], e as secretarias adjuntas do Fábian Solano, Presidente do Partido Socialista do Equador e de Estela Molero, dirigente do Partido Socialista da Argentina. Geralmente, organizamos as reuniões da CSL em paralelo aos encontros do Foro de São Paulo, como foi o caso das últimas edições. Como o Foro, a CSL é um espaço de intercâmbio político, onde os partidos relatam a situação de seus países e apresentam suas propostas ideológicas, buscando avançar no debate sobre o socialismo na região.
Portal PSB 40: E no que difere do Foro?
Lygia Di Moura: A CSL é um espaço político de alcance mais limitado, pois reúne apenas partidos socialistas, não incorporando os comunistas, social-democratas e outros. A estrutura também não é comparável a do Foro. Entretanto, é uma organização antiga, criada em 1986, e consolidada no cenário político latino-americano. O debate entre nossos partidos é igualmente intenso.
RETOMO. Agora, portanto, há uma “concorrência de projetos de poder” entre PT e PSB, ou seja: uma disputa interna entre membros do Foro de São Paulo. E, a despeito de eventuais diferenças de programa de governo, o projeto do Foro mais nocivo à democracia brasileira – o decreto 8.243, assinado por Dilma – é apoiado por Marina Silva, aquela que também quer “aprofundar a democracia”, “democratizar a democracia” e outras barbaridades da língua esquerdista que sempre significaram apenas uma coisa: destruir a democracia, como nós a entendemos.
Até quando vamos fingir que isso tudo é normal? O Brasil está mais uma vez “pagando pra ver” o que acontece, em vez de fazer o seu dever de casa enquanto é tempo.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
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