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Felipe Moura Brasil

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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Como O Globo insiste em blindar Beltrame

Jornal que deu prêmio ao secretário de Segurança em 2010 suaviza críticas de Paes

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 4 jun 2024, 23h02 - Publicado em 5 jul 2016, 22h52

Questionei no domingo (3):

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Pelo visto, não.

A comparação das manchetes de capa das edições impressas de Folha de S. Paulo e O Globo desta terça-feira (5) evidenciam que o jornal carioca ainda insiste em blindar o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, como este blog aponta há anos.

Veja a diferença de destaque às declarações do prefeito Eduardo Paes:

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A notícia mais forte, em termos jornalísticos, é obviamente o prefeito da cidade olímpica acusar o governo do estado de fazer um trabalho terrível na área de segurança.

A Folha condensou esta acusação com a manchete “Segurança no Rio é horrível, diz Paes a um mês dos Jogos”; e apontou no subtítulo que “À rede CNN prefeito critica governo fluminense pela 2ª vez em três dias”. Ou seja: o conjunto principal da notícia – o único a ser lido por boa parte dos leitores – escancara a crítica do prefeito ao governo do estado em matéria de interesse geral.

O Globo, descaradamente, evitou isto. Sob a logo olímpica e a contagem regressiva “Falta um mês”, o jornal tratou de fingir que está tudo ok para os Jogos com a manchete “Paes afirma que segurança não será problema na Olimpíada”. O subtítulo nem sequer menciona o estado, mas, sim, genericamente, a “situação”: “Prefeito diz que situação hoje é ‘terrível’, mas que tropas federais vão atuar nos Jogos”.

Nem o parágrafo da chamada de capa coloca a crítica de Paes nos seus devidos termos, direcionada ao governo do estado. O prefeito disse com todas as letras que “o governo está falhando completamente em seu trabalho”, mas o texto trata genericamente da “segurança do estado” sem apontar a responsabilidade do governo.

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“O prefeito Eduardo Paes disse que as tropas das forças Armadas e Nacional vão garantir a tranquilidade da Olimpíada, apesar de a segurança do estado estar ‘muito ruim’. À CNN, chegou a dizer que está ‘horrível, terrível’.”

Isso mesmo: “chegou a dizer”. Como se a 2ª vez em três dias (como apontado pela Folha) fosse assim um mero arroubo retórico.

Não é de hoje que O Globo blinda Beltrame – e maquia a realidade do Rio – de maneira tão vexaminosa.

Em dezembro de 2014, este blog já mostrava os artifícios do jornal em capa que relembro abaixo:

Globo Beltrame capa

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Reproduzo o que escrevi na ocasião:

É sempre possível no jornalismo fazer com que uma autoridade corresponsável por um cenário de insegurança se saia bem diante de tragédias ocorridas sob seu mandato. Em vez de apontar na manchete a tragédia – no caso a de um estado com 105 PMs mortos nos onze meses deste ano, cinco deles em uma semana (mais um cabo do Exército), três só no sábado –, basta que se aponte a providência mais banal tomada por essa autoridade após o fato consumado.

Destacar que “Beltrame ordena busca a assassinos de PMs” é exatamente como destacar que ‘Hoje é segunda-feira’. A gente pensa: jura? E quais assassinos será que o secretário de Segurança não manda buscar? Existe algum? Não é função da polícia buscar TODOS os assassinos de quem quer que seja? Sei que num país onde somente 8%(!!!) dos quase 60 mil homicídios anuais são solucionados, dizer isto parece uma novidade e tanto, mas, na verdade, destacar a exceção que deveria ser a regra (sem dizê-lo) é puro chapa-branquismo jornalístico – daqueles, aliás, que a imprensa paulista jamais teria com o governador tucano Geraldo Alckmin, ainda que São Paulo seja o estado em que menos se mata no Brasil, de acordo com o último Mapa da Violência.

Como escrevi há quatro dias: “É uma trágica ironia que os repórteres do mesmo jornal [O Globo] que elegeu o secretário de Segurança Beltrame a ‘Personalidade do Ano’ na oitava edição do Prêmio Faz Diferença em 2010 sejam alvejados por traficantes em uma ‘comunidade’ que ele pretendia pacificar. Neste ponto, Beltrame é o Obama brasileiro: incensado como um messias pela imprensa amiga e vencedor de prêmio por sua suposta atuação pela paz com anos de antecedência para alcançá-la.”

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Tudo segue igual, como queríamos demonstrar. A realidade fluminense é macabra, mas a imagem de Beltrame continua bem protegida por uma imprensa que precisa fazer jus às honras que lhe concedeu.

Amanhã no Globo, não perca: “Hoje é terça-feira.”

* Relembre também aqui no blog:
– Como O Globo maquia dados para blindar Beltrame, em meio à insegurança geral no estado do Rio de Janeiro
Zuenir Ventura, o garoto-propaganda de Beltrame (veja item 5)

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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