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Felipe Moura Brasil

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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Avante, Império

Blog parabeniza imperianos pela vitória e relembra artigo de 2009 sobre a escola

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 4 jun 2024, 19h18 - Publicado em 2 mar 2017, 13h17

Ao retomar este blog após o carnaval, parabenizo o meu querido Império Serrano pela vitória no Grupo de Acesso do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro e o merecido retorno ao Grupo Especial após oito anos.

Parabéns, mestre Gilmarzinho, que há anos mantém e incrementa a cadência, a graça e o minimalismo que foram as marcas de Átila no comando da bateria imperiana, coroada pelo talento da rainha Quitéria Chagas.

“Tem poesia no ar / você já sabe quem sou / pelo toque do agogô”, como diz a letra do samba-enredo em homenagem ao poeta Manoel de Barros, cuja inspiração vinha das belezas do Pantanal, expostas pela escola na Sapucaí.

Para celebrar com o povo de Madureira e da Serrinha – e com meu editor imperiano da Record, Carlos Andreazza –, relembro abaixo o texto que escrevi com carinho em janeiro de 2009, para a revista do Império distribuída no carnaval daquele ano. Que venham mais eventos assim.

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Feijoada Imperial – o melhor programa do Rio
(Felipe Moura Brasil, Revista do Império Serrano, 2009)

Samba sem anfitrião não é samba. É show, boate, micareta, tudo isso que prolifera por aí, nos padrões impessoais da cultura pop. Você chega a um lugar, que podia ser outro. Você assiste a uma atração musical, que podia ser qualquer uma. Você está no meio de gente, que não tem vínculo algum com o resto. Até os salgadinhos parecem dizer: “Te conheço?”.

Isto pode até ter samba, claro, mas não chega a ser um. Porque o samba requer unidade, identidade, raiz – atributos indispensáveis para você se sentir em família, no fundo do quintal. Foi assim que, na casa da Tia Ciata, no início do século XX, nasceram os pagodes (em seu sentido original, de festa regada a comida, bebida e música). E, hoje, nenhum programa do Rio de Janeiro – do Brasil, eu diria – traduz melhor este espírito que a Feijoada Imperial, no terceiro sábado de cada mês, em Madureira.

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O cantor Jorginho do Império, anfitrião da Feijoada Imperial (carnavalcarioca.net/Reprodução)

– Vou de mesa em mesa agradecer a presença das pessoas. Elas dizem ‘Eu sou amigo de fulano’, ‘Fulano esteve aqui no dia tal’ – conta Jorginho do Império, o anfitrião da feijoada, assumidamente inspirada na da Mangueira. – Fui cantar lá e vi o Delegado [passista da Velha Guarda] e a irmã dele, uma senhora feliz, sambando, ganhando beijo de todo mundo, aquilo me marcou. Eu queria ver a família imperiana retornar à quadra também – explica o sambista, cuja voz é marca e diferencial da escola da Serrinha.

Para a primeira Feijoada Imperial, em 2005, ele convidou 300 pessoas. Apareceram mais de mil. Agora, são quase 4 mil presentes, imperianos ou não, de todas as idades e classes sociais, que engrossam o coro de Jorginho quando, no chão mesmo, de sandália, ele canta os melhores sambas-enredo do Império e de outras escolas, sem frescura.

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– Um dia eu falei ‘Quer saber de uma coisa? Eu não vou cantar no palco não, vou cantar lá embaixo!’. Ali é meu pedaço, quem quiser retrato, beijo, abraço, eu dou. O importante para mim é o evento – diz ele.

Um evento que nasceu no improviso e soube se aprimorar sem perder a essência. Foi o Império que colocou a bateria na feijoada, o que faz toda a diferença, sobretudo quando se trata da “Orquestra Sinfônica do Samba”, de Mestre Átila. É o momento apoteótico de uma tarde que, além de participações de peso (Arlindo Cruz, Leci Brandão, intérpretes das “co-irmãs”) e figuras ilustres (o fundador Seu Molequinho, a Velha Guarda), ainda revela ao público cantoras de épocas e estilos diferentes como Conceição de Almeida e Andréa Café, a maior revelação do samba (“diretamente de Nova Iguaçu!”, ela grita, cheia de moral).

Mas nada disso seria a Feijoada Imperial se não fosse Tia Néia. É ela a responsável pela comida. No início, cozinhava sozinha para 200 pessoas. Hoje, tem 17 ajudantes para dar conta dos 60 quilos de feijão, arroz e farinha; dos 120 de “salgados” (carne seca, lombo, costela, pé de porco, orelha, rabo, tripa, lingüiça e torresmo); sem contar laranja e caipivodka. São mais de mil pratos servidos, e ainda vem gente pedir o caldo.

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– Eu viro a noite para deixar tudo pronto. O pessoal ama o meu tempero – orgulha-se Tia Néia, há dez anos no Império, onde começou como babá.

Lá é assim. Pessoas, histórias e lugar são indissociáveis. Há um orgulho de mostrar o que foi construído ali. E é por causa deste orgulho – saudável e acolhedor – que você se sente cercado de anfitriões, prestigiado em fazer parte daquele universo, nem que seja por uma tarde. Na Feijoada Imperial, até os salgadinhos parecem dizer: “Por que você demorou tanto?”.

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Imperianos comemoram o título do Grupo de Acesso do carnaval de 2017 (Rodrigo Gorosito/G1/Reprodução)
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Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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