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Felipe Moura Brasil

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As três hipóteses do caso Nisman – um roteiro macabro para ator Ricardo Darín e diretor Juan José Campanella

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 02h16 - Publicado em 23 jan 2015, 17h49

promotor_argentino_alberto_nismanSuicídio, assassinato ou suicídio induzido.

Essas são, você sabe, as três hipóteses em que se baseia a busca da verdade sobre o caso do procurador-geral Alberto Nisman, encontrado morto na véspera de apresentar denúncia no Congresso contra a presidente Cristina Kirchner por encobrir iranianos envolvidos no atentado terrorista contra a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1994, que deixou 85 mortos e mais de 300 feridos.

O jornal El Clarín fez um breve resumo de cada possibilidade, ao qual acrescento abaixo uma porção de informações e uma conclusão, digamos, cinematográfica, com o ator Ricardo Darín e o diretor Juan José Campanella. Enquanto, para proteger Cristina, seu partido ataca juízes, promotores e jornalistas, vejamos o caso:

Hipótese 1. Por que pode ter sido um suicídio?

A primeira autópsia do corpo de Nisman revelou que a morte foi causada por um tiro supostamente sem intervenção de terceiros. Além do misterioso buraco negro temporal que existe desde o momento em que os guardiões da Nisman tentam se comunicar com seu protegido até que entram no apartamento, o promotor foi encontrado morto no banheiro, sobre uma poça de sangue. Sua cabeça e parte das suas costas travavam a porta. Não foram encontrados sinais de defesa ou de luta, nem no lugar nem no corpo da vítima.

Outro fato que chama a atenção é que, sendo um assassino, tenha usado a Bersa calibre .22, a arma que Nisman havia pedido emprestado um dia antes a Diego Lagomarsino, um colaborador especialista em informática. Além disso, o tiro foi feito a menos de dois centímetros de distância, o que também reforçaria essa hipótese.

No domingo, o dia em que foi encontrado morto, o promotor pediu aos seus guardiões que estivessem na torre Le Parc às 11h30 e a essa hora já não deu sinal. De acordo com a autópsia, ele não morreu antes das 14 horas. Por que não respondeu?

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Hipótese 2. Por que pode ter sido um assassinato?

“O suicídio (que estou convencida) não foi suicídio”: assim escolheu para começar a sua postagem em redes sociais a presidente Cristina Fernandez de Kirchner, que deu a entender que na morte de Nisman poderiam estar envolvidos agentes ou ex-agentes da Secretaria de Inteligência (SI). “Usaram-no vivo e depois precisavam dele morto”, escreveu também.

No envelope imaginário que reúne dados para sustentar esta hipótese, descobriu-se na quarta-feira que havia uma terceira porta, que se conecta os apartamentos por um duto onde estão os equipamentos de ar-condicionado. Foram encontradas ali uma pegada de aparência recente e uma impressão digital em uma redoma de proteção. O que se investiga é se esses vestígios podem ter a ver com o episódio.

Ademais, o testemunho do chaveiro que ajudou a abrir a porta de serviço reforçou a ideia de que alguém poderia ter entrado no apartamento de Nisman. É que, ao contrário das primeiras versões difundidas, o único “impedimento” apresentado por aquela porta era a chave presente na fechadura. Mas não estava trancada. Portanto, existe a possibilidade de que, se alguém tivesse entrado, poderia ter saído por esse acesso, que é usado para entrega de alimentos e visitas que não sabem a senha pessoal que cada habitante da torre de Puerto Madero tem para subir pelo elevador principal.

A essas novidades soma-se o fato de que a varredura digital da mão de Nisman não deu positivo para chumbo, bário e antimônio – os vestígios que ficam depois de um tiro. No entanto, alguns especialistas explicaram que a varredura pode dar negativa, porque se trata de um calibre pequeno em uma pistola que é fechada. Neste sentido, a procuradora Fein solicitou uma nova perícia: ou seja, disparar de novo a arma para verificar se deixa vestígios, ainda que dependa da quantidade de pólvora que leva o projétil e este dado é desconhecido em relação à bala que matou Nisman. A mãe e a ex-mulher dele, a juíza Sandra Arroyo Salgado, disseram à procuradora que não acreditam em suicídio.

Várias pessoas – deputados e funcionários – que falaram com Nisman no sábado confirmaram que ele estava lúcido e compenetrado. Algumas enviaram à imprensa local na terça-feira uma foto da mesa de trabalho, em casa, que o promotor lhes enviara por whatsapp antes da morte. A imagem, onde aparecem vários papeis e marcadores de texto, dá ideia de que ele estava mesmo envolvido no trabalho de preparação para a reunião que teria na segunda com integrantes do Congresso Nacional.

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Outro fato contra a hipótese de suicídio foi uma lista de compras de alimentos e material de limpeza que Nisman deixou para a empregada fazer no supermercado também na segunda. Quem se preocuparia com a faxina da casa e com o que vai comer no dia seguinte ao próprio suicídio?

Hipótese 3. Por que ele pode ser um suicídio induzido?

Esta é a hipótese mais complexa, que subtende ameaças feitas de alguma forma à vítima para que ela mesma se mate. Os especialistas dizem que é um crime muito difícil de provar. E, de fato, não houve uma única condenação por este crime na história judicial argentina. Mas muitos casos suspeitos são conhecidos. Como disse o jornalista Jorge Lanata: “Não seria o primeiro suicídio induzido na Argentina. Na época de Carlos Menem (nos anos 1990), esta era a maneira mais comum de fazer desaparecer as testemunhas.”

Um ponto ainda misterioso é por que Nisman retornou inesperadamente de sua viagem de férias à Europa, deixando a filha de 12 anos sozinha no aeroporto de Barajas, em Madri, durante três horas à espera de sua mãe. A divulgação feita pelo canal C5N das imagens da chegada de Nisman ao aeroporto internacional de Ezeiza, em Buenos Aires, aumentaram na quinta-feira (22) a polêmica.

No vídeo, gravado pelas câmeras de segurança, Nisman aparece muito apressado atravessando o controle migratório no último dia 12, por volta das 8h30 da hora local (9h30, pelo horário de Brasília). Em seguida, o promotor é visto perto das esteiras e, enquanto espera sua bagagem, olha de um lado para outro, confere várias vezes seu telefone celular e faz algumas ligações. Minutos depois, um indivíduo de terno não identificado e cujo rosto aparece distorcido nas imagens se encontra com ele e os dois se cumprimentam.

A imprensa local levantou a possibilidade de que a pessoa que recolheu Nisman em Ezeiza seja um agente dos Serviços de Inteligência argentinos.

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Conclusão:

De férias em Mar Del Plata, o ator e maior estrela do cinema argentino Ricardo Darín – que já protagonizou um filme coincidentemente chamado “Hipóteses sobre um homicídio” e está no elenco do extraordinário “Relatos Selvagens”, candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro – mostrou sua indignação, dizendo que o governo deveria ter sido o primeiro a preocupar-se com a segurança do promotor:

“Se alguém vai me acusar de algo, tenha ou não razão, se diz ter provas, deveria eu ser o primeiro encarregado pela sua segurança. Porque se algo acontecer a essa pessoa, como aconteceu, isso só serve para acrescentar suspeitas sobre mim. Isso não é uma acusação. Estou esperando apenas que alguém dê uma explicação minimamente válida.”

Na entrevista abaixo, Darín menciona que perdeu dois amigos no ataque à AMIA de 1994:

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=-mEOR_GwRuI?wmode=transparent&fs=1&hl=en&modestbranding=1&iv_load_policy=3&showsearch=0&rel=1&theme=dark&w=620&h=349%5D

Juan José Campanella, diretor de Darín em obras-primas, como o vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro “O segredo dos seus olhos”, que têm o cenário político da Argentina como pano de fundo, também se manifestou pelo Twitter:

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Captura de Tela 2015-01-23 às 17.18.34

Assim como falei no caso do avião da Malásia, portanto, eu só tenho uma teoria 100% segura sobre a morte de Nisman: vai virar filme.

Só espero que seja com Campanella e Darín.

Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil

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