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Felipe Moura Brasil

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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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A importância do enredo para Beija-Flor e PT

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 5 jun 2024, 11h17 - Publicado em 19 fev 2015, 21h12

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Amarrar um conceito é a base de toda campanha, seja ela publicitária, política ou carnavalesca.

No caso das escolas de samba, o quesito referente ao conceito é o enredo. Se o enredo é de difícil leitura, o desfile inteiro fica comprometido.

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O carnaval carioca de 2015 foi didático neste ponto: as quatro escolas que acumularam as notas mais baixas em enredo foram as quatro últimas colocadas na apuração de quarta-feira de cinzas.

Viradouro (29,4), Vila Isabel (29,4), Mangueira (29,7) e União da Ilha (29,7) foram o PSDB da Sapucaí: fizeram o que puderam para complicar suas mensagens e tiveram o resultado que mereceram.

A rebaixada Viradouro fundiu dois sambas não carnavalescos de Luiz Carlos da Vila sobre a negritude brasileira e, no caminho inverso ao usual, fez um enredo vago em cima desse tema demasiadamente amplo, o qual a tempestade na avenida ainda tornou mais obscuro.

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A Vila Isabel não se satisfez em homenagear o maestro paulista Isaac Karabtchevsky, cujo sobrenome nem aparece no samba para identificá-lo de fato, e partiu para uma mistura de música clássica com a popular, homenageando também Villa-Lobos por um lado e compositores da Vila, como Martinho e Noel, por outro. O resultado foi uma letra longa e confusa, que mal empolgou os integrantes da escola, que dirá a arquibancada.

A Mangueira tampouco se satisfez em exaltar as mulheres historicamente ligadas à escola, como as donas Neuma e Zica, e resolveu apelar para a exaltação da mulher brasileira, traçando paralelos pouco alinhados entre a comunidade e a sociedade em geral.

A União da Ilha, então, fez uma confusão dos diabos com o seu também vago “tributo à beleza”, misturando a natureza agredida pelo homem, a busca dos artistas em retratar o belo, as nuances do mundo da moda, os contos de fadas, a beleza interior e até a selfie como representação da vaidade, tornando quase indiscernível o que eram homenagem ou crítica, humor ou seriedade.

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Já a campeã Beija-Flor, que acumulou três notas 10 em enredo somando os 30 pontos do quesito, foi muito mais objetiva: saudou a Guiné Equatorial, por meio da qual lançou “um olhar sobre a África”. Um olhar petista, claro, que providencialmente omitiu a opressão do povo guinéu-equatoriano pelo ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, responsável por brutais violações dos direitos humanos, com tortura e assassinato de milhares de opositores.

A Beija-Flor é o PT da Sapucaí: o enredo da escola é de fácil leitura e repleto de mitos como o do partido, o que resulta em vitória na apuração; enquanto de difícil leitura é o enredo do financiamento, que pouco interessa a jurados e eleitores.

O ministro da Informação, Imprensa e Rádio, Teobaldo Nchaso Matomba, afirmou que a iniciativa do patrocínio partiu de “empresas brasileiras”; e o diretor-artístico da Beija-Flor, Fran Sérgio Oliveira, disse que a escola recebeu 10 milhões de reais das empreiteiras com negócios na Guiné Equatorial, citando Queiroz Galvão, Odebrecht e grupo ARG. Como de hábito no petrolão, a Odebrecht nega. E, segundo O Globo, o ditador é que teria captado os 10 milhões de reais.

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Em 2010, Lula esteve oficialmente na Guiné Equatorial para “assinar acordos”, com o mesmo argumento usado por Obama hoje em relação a Cuba e exaltado por inocentes úteis até da direita: fazer negócios com o país ajudaria no avanço da democracia local. Os governos Lula e Dilma anistiaram uma dívida de 27 milhões de reais da Guiné com o Brasil, de modo que a gratidão do ditador aos amigos petistas agora dá até samba (com direito a camarote, claro).

O da azul e branco de Nilópolis foi batizado Um griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. O griô é um sábio ancião que guarda a história e a reproduz através das gerações. Se os adversários do PT e da Beija-Flor quiserem vencê-los um dia, precisarão ser griôs capazes de guardar a história verdadeira e reproduzi-la de modo mais simples e direto para outras gerações. Caso contrário, o povo enganado continuará cantando:

“Não entendi o enredo desse samba, amor…”

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Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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