Mads Mikkelsen elogia Johnny Depp no Festival de Cannes
Ator substituiu Depp na franquia ‘Animais Fantásticos’; no evento, ele falou sobre o início da carreira e a elogiada cena de dança em ‘Druk’
Em meio a dezenas de filmes, festas em iates e praias privadas e muito tapete vermelho, toda edição o Festival de Cannes abre espaço para uma restrita conversa do público com atores e cineastas. Por noventa minutos, em um auditório de lugares concorridos, é como se a gente tomasse um cafezinho como John Travolta, Alain Delon, Gary Oldman ou Christopher Nolan na sala de casa. Nesta quinta 26, foi a vez de Mads Mikkelsen, ator dinamarquês que recentemente substituiu Johnny Depp na franquia de Animais Fantásticos. “Embora tenha assistido aos outros filmes, sabia que precisava criar outra coisa, porque [Depp] era bom demais”, ele disse sobre interpretar o vilão Grindewald e sobre o ator que, agora, lida com o escrutínio da era do cancelamento e um embate judicial contra a ex-esposa.
Mikkelsen é um veterano do Festival. Veio pela primeira vez em 1997, quando ele e o diretor Nicolas Winding distribuíram cópias em DVD de um seus primeiros filmes, Pusher. Voltou muitas vezes, sendo a última em 2018, para lançar Arctic do brasileiro Joe Penna. Teria voltado em 2020, com Druk, de Thomas Vinterberg na seleção oficial mas, com a pandemia, o filme recebeu estreias individuais ao redor do mundo, ganhando prêmios como o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O papo conduzido pelo crítico francês Didier Allouch começou com a música What a Life, que embala a sequência final em que Mikkelsen dança entre jovens em uma festa. “Não foi uma cena de que gostei imediatamente, mas hoje a considero muito boa. Sobre dançar, vou ter que esperar o próximo filme com uma cena assim”. Um fã pegou o microfone para dizer: “Minha vida se divide entre antes e depois de Druk”, e o ator brincou, querendo saber em qual metade estava agora.
Sobre eventuais experiências com álcool para realizar o filme, no qual professores de uma escola decidem adicionar uma leve porcentagem diária de álcool no corpo, para levar uma vida melhor, Mikkelsen disse que Thomas escolheu quatro atores com um conhecimento mais ou menos bom sobre o tema. “Teria sido difícil filmar cenas mais longas com todo mundo bêbado, mas antes de começarmos a rodagem, fizemos um bootcamp. A gente bebia e ensaiava as cenas, medindo a concentração de álcool no sangue, exatamente como no filme. Um dos atores é um ex-alcoolatra e não pode beber, mas com um estalar de dedos, ele parecia tão bêbado quanto nós todos, era incrível. Mas as cenas não estavam ficando melhores, então desistimos.”
Sobre o personagem Hannibal Lecter, que interpretou durante três anos para a série Hannibal gerou muito interesse. “Diferentemente do personagem de Anthony Hopkins [no filme Silêncio dos Inocentes], o seu Hannibal é charmoso e atraente. “Foi intencional?”, perguntaram. Ele respondeu que não sabia, mas também o achava charmoso, e sempre buscava o que havia de humano em seus personagens: “Mesmo no caso de Hannibal, é uma humanidade de cabeça para baixo, mas ainda assim uma humanidade”.
Mikkelsen disse que, em todos os diretores, buscava paixão, embora os de produções independentes tivessem mais tendência a ligar para ele no meio da noite, com uma ideia nova para o dia seguinte. Não economizou em simpatia com o público – levando o microfone para uma mulher em cadeira de rodas que queria fazer uma pergunta – e em elogios a Cannes. “Mesmo com todas as festas, e bebida em alguma medida, Cannes é sobre isso: se reunir com os outros e falar sobre cinema”, disse, sob aplausos. “Eu gostaria de te convidar para beber com meus amigos hoje à noite”, alguém disse, da plateia. “Onde?”, ele perguntou, dizendo em seguida “nos achamos em Cannes”.