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‘Crimes of the Future’: uma distopia biológica para quem tem estômago

O diretor David Cronenberg choca ao imaginar uma era em que humanos usam a tecnologia para mudar seus corpos

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 jul 2022, 08h00

Na sala poeirenta da divisão de Registro de Novos Órgãos, Saul Tenser (Viggo Mortensen) é devorado com os olhos pela burocrata Timlin (Kristen Stewart). Ela o cerca num canto, tomada por desejo; ele se esquiva. Timlin faz o homem abrir a boca e o examina por dentro. Ele parece gostar, mas recua diante de um beijo: “Desculpe, eu não sou bom no antigo sexo”. Se chegar firme a essa altura do desafiador Crimes of the Future (Canadá/Inglaterra/Grécia, 2021), o espectador já estará ciente do que realmente move a libido dos personagens da nova distopia biotecnológica do diretor David Cronenberg: a visão de vísceras e tecidos modificados através da genética e, graças a avanços da medicina, capazes de despertar prazer ao ser expostos e tocados — tanto para quem vê como para quem, como o artista performático Tenser, se oferece de cobaia. “A cirurgia é o novo sexo”, diz ele, resumindo essas mórbidas relações humanas.

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E bota mórbidas nisso: durante sua exibição no último Festival de Cannes, o filme de Cronenberg — que acaba de chegar aos cinemas do país e estreia na plataforma Mubi no dia 29 — levou muitos a deixar a sessão chocados. Aos 79 anos e havia oito sem dirigir um longa, o cineasta canadense está de volta à sua zona de conforto: a provocação assentada na esquisitice presente em filmes como A Mosca (1986) e Crash — Estranhos Prazeres (1996).

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É com Crash, que falava de pessoas com o perturbador fetiche sexual por acidentes de carro, que Crimes of the Future mais se aparenta. Numa era hipotética, os humanos vivem uma transição física vertiginosa. Já não se sente dor, o sono e a alimentação são otimizados por camas e cadeiras com aspecto orgânico, e as pessoas rumam a uma fusão de seus organismos com elementos sintéticos. A prática assusta e é coibida, pois não se sabe ao certo seu efeito sobre a evolução da espécie. Mas, no submundo, cientistas e artistas radicalizam essas experiências.

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Em suas performances, Tenser se deixa ser dissecado ao vivo, enquanto a parceira Caprice (Léa Seydoux) controla com um joystick os bisturis que vão abrindo seu abdome e de lá extraindo surpresinhas que causam excitação: órgãos desconhecidos que seu metabolismo produziu e viram “obras de arte”. Crimes of the Future não deixa de ser um suspense — e decerto frustra quem espera um final apoteótico. Mas é, sobretudo, uma potente versão do mito grego de Prometeu: ao brincar de Deus, criando, por exemplo, crianças capazes de deglutir plástico, não estaria o homem dando um passo maior que as pernas? O espectador pode tirar sua conclusão — se tiver estômago.

Publicado em VEJA de 20 de julho de 2022, edição nº 2798

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