Carlos Saldanha é figurinha carimbada nos cinemas de todo o mundo: diretor de A Era do Gelo e Rio, o cineasta brasileiro, hoje radicado nos Estados Unidos, cativou milhares de pessoas com as suas animações. Seu novo filme, Harold e o Lápis Mágico, já em cartaz nos cinemas, adapta os desenhos americanos clássicos de Crockett Johnson para as telas, aliando elementos narrativos a uma aventuresca história em live-action. Em entrevista a VEJA, o autor falou sobre sua carreira consolidada na animação, as peculiaridades do público infantil e os desafios do futuro. Confira a seguir:
Harold e o Lápis Mágico une elementos de animação ao live-action. Como foi equilibrar esses dois universos? Foi um desafio, mas o Harold caiu para mim como uma perfeita transição. Quando eu soube que o filme ia ter um pouco de animação e efeitos especiais, eu achei que seria um bom equilíbrio porque eu poderia usar a minha experiência de animador e de filmes de animação mas, ao mesmo tempo, aprender com o live-action e fazer coisas novas.
Você tem uma carreira longa na animação, e Harold também é voltado para o público infantil. O que te atrai nessa audiência? Eu vivo nesse mundo. Desde A Era do Gelo até o Touro Ferdinando, eu sempre busco essa linguagem que tem um apelo infantil, mas também tem apelo pros mais velhos. São filmes família, que todo mundo se diverte. Eu sempre busco esse caminho, que funciona pro avô, pro pai, pro irmão. Em Harold eu trouxe essa versatilidade, e também falamos de temáticas importantes. A gente fala sobre um pouco sobre luto, sobre o poder da imaginação, da mudança e do aprendizado. Trabalhar com uma mensagem forte, mas dentro de um um mundo mais lúdico, é muito interessante para mim, e é o que eu gosto de fazer.
A gente viu recentemente o sucesso de Divertidamente 2, e há cada vez mais animações que tratam de temas sérios de forma lúdica. Como é falar de coisas tão complexas para uma audiência tão jovem? O público jovem é sofisticado também. Eles entendem e passam por isso, se identificam. Todos nós sabemos que a vida não é só feita de alegria e de felicidade, existem problemas. A dificuldade dos jovens, como de todos nós, é lidar com essas dificuldades. Às vezes os filmes trazem à tona algumas emoções e situações que as pessoas se identificam e, se identificando, elas vão autodescobrindo possíveis soluções. O jovem gosta de ter desafios emocionais, e os filmes funcionam porque tem esse equilíbrio.
Apesar disso, os seus filmes sempre tem um clima muito leve. Isso tem algo a ver com a sua brasilidade? Acho que sim. Eu gosto de me divertir. Tenho esse apreço por não só passar mensagem, mas todas as emoções, inclusive felicidade e alegria. Eu adoro ação, adoro comédia, então pra mim sempre tem essa feijoada de emoções que eu amo trazer para os meus filmes.
As crianças hoje estão cada vez mais presa ao mundo digital. Qual o papel do cinema nesse cenário? É uma opção para sair do celular. Na época da pandemia, as pessoas ficaram muito voltadas para dentro, e agora tem esse retorno. Ficamos muito sozinhos no telefone, no próprio mundo, e o cinema é uma experiência coletiva. Quando você vê um filme no cinema você tem todas as emoções ao seu redor te levando para um outro lugar. É uma forma de entretenimento muito saudável, de interagir com as pessoas e dividir emoções. Isso é muito importante.
Você tem projetos mais adultos encaminhados, como o longa 100 dias. Se vê deixando as animações e as crianças para trás ou é algo indispensável pra você? É indispensável, e eu nunca deixaria para trás. Eu estou em um momento de tentar aprender, porque eu sempre quero aprender, e gosto de desafios novos. Eu estou sempre na busca de projetos. Eu vou fazer animação, quero continuar fazendo animação, vou desenvolver projetos aqui no Brasil, lá fora. Eu estou sempre buscando a melhor história pra contar — se é animação ou se é live-action eu não sei, mas vou estar sempre nessa busca.
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