A notável cruzada política da sequência do sucesso Wicked
Com enredo de tom político, filme revive filão de filmes juvenis e de fantasia que mostram o poder dos chamados oprimidos diante de governos autoritários
Durante a infância, na década de 1960, o escritor americano Gregory Maguire brincava com seus irmãos de recriar cenas do filme clássico O Mágico de Oz (1939). Vidrado na imagem da atriz Margaret Hamilton, a esverdeada Bruxa Má do Oeste, ele deu à personagem a chance de contar sua própria história: em 1995, lançou o livro Wicked, traduzido no Brasil como Maligna: A História Não Contada das Bruxas de Oz. Na trama, imaginava como a vilã, derrotada por Dorothy (Judy Garland) no final do longa de Victor Fleming, havia se tornado má — para isso, deu a ela um nome, Elphaba, e uma trajetória humanizada de enfrentamento de preconceitos. Elphaba não nasceu má, mas o mundo lhe recusou a chance de ser boa. A trama que surgiu como uma tentativa de dissecar a origem da maldade culminou em um conto de fadas sobre como o meio interfere no destino das pessoas — mais especificamente, quando figuras políticas mal-intencionadas manipulam o povo, incitando narrativas de intolerância e violência.
O enredo deveras atual ganhou novo colorido — e bota colorido nisso — no filme Wicked: Parte II (Wicked: For Good, Estados Unidos, 2025), que entra em cartaz na quinta-feira 20. Sequência do filme Wicked, do ano passado, e adaptação da segunda parte do musical de sucesso da Broadway baseado no livro, a superprodução dirigida por Jon M. Chu usa a fantasia como embalagem para discussões mais profundas: da polarização política à opressão do autoritarismo, Wicked transita por assuntos caros ao mundo contemporâneo.
A produção musical estrelada por Cynthia Erivo, como Elphaba, e Ariana Grande, na pele de Glinda, a Bruxa Boa do Norte, segue uma tradição prolífica do universo de entretenimento juvenil. A inesgotável franquia Star Wars é um exemplo valoroso de como política e ficção fantasiosa andam juntos. A popular saga distópica Jogos Vorazes é outra dessa leva, questionando uma ditadura abusiva nos Estados Unidos. Até animações como Zootopia se valem de referências dignas do noticiário político de verdade (veja abaixo). São histórias que servem para entreter, mas também inspirar e lembrar ao público que é preciso se manter alerta ao autoritarismo também na vida real.
Anos antes de um tornado levar Dorothy do Kansas para Oz, a popular e loira Glinda e a rejeitada Elphaba, alvo de racismo por ter nascido com a pele verde, chegaram juntas à Universidade Shiz — e, de início, se odiaram. Com o tempo, e apesar das diferenças, tornaram-se melhores amigas. No final do ato de abertura da peça que serve de base para o primeiro Wicked, Elphaba descobre que o dito poderoso Mágico (Jeff Goldblum) não passa de uma farsa sem poderes que engana o povo de Oz com manipulações, propagando medo e criando um inimigo comum: os animais. Até então tratados como iguais, os bichos são subjugados. O líder mau-caráter ainda vilaniza Elphaba, que não se deixa seduzir pelo poder e quer defender os marginalizados. Mas isso lhe custa uma reputação manchada. Enquanto isso, Glinda, ciente da verdade, vai na contramão por vaidade, alimentando as ilusões da população. “Elphaba não só precisa enfrentar o poder, como também tem de rejeitar os conselhos de amigos que querem suavizar sua postura para evitar problemas”, disse a VEJA o diretor M. Chu.
Falar de resistência é um campo fértil e também lucrativo. O primeiro Wicked faturou 755 milhões de dólares em bilheteria, tornando-se a maior adaptação cinematográfica de uma peça da Broadway na história — e a sequência deve superar essa marca após sua estreia. Na mesma toada, Star Wars tem novos capítulos a perder de vista pela frente, como o filme O Mandaloriano e Grogu, assim como Jogos Vorazes: Amanhecer na Colheita, que se passa antes dos acontecimentos da trilogia com Jennifer Lawrence — ambos previstos para 2026. Lançamento mais próximo, Zootopia 2, que entra em cartaz no dia 27 de novembro, abordará outra espécie marginalizada e vilanizada pelo mundo animal: os répteis. Resistir é preciso, inclusive no mundo da fantasia.
A força dos esquecidos
Tramas marcantes mostram como heróis comuns enfrentam as injustiças
Star Wars
Na franquia, o vilão Darth Vader (centro) comanda o Império, autocracia que domina a galáxia com repressão brutal e é combatida pelos heróis da Aliança Rebelde — uma das mais notórias alegorias do totalitarismo na cultura pop
Jogos Vorazes
Na bem-sucedida série de longas, Katniss (Jennifer Lawrence, à dir.) entra em uma competição mortal, promovida pelo governo de seu país para entreter ricaços doentios, na franquia Jogos Vorazes, e vira símbolo de resistência
Zootopia
Na afiada animação, a coelha Judy e a raposa Nick vivem num mundo dividido entre presas e predadores. Lutando contra os estereótipos de suas espécies, eles descobrem que uma figura poderosa infla essa segregação de propósito
Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2025, edição nº 2970
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