Este é o oitavo post de uma série publicada neste espaço sobre os resultados da Prova Brasil 2015, divulgados recentemente pelo MEC. Veja aqui a lista completa de posts
Em qualquer país a educação sempre pode melhorar, e sempre haverá novos desafios. A mudança é constante, mas nem sempre resulta em melhoria. O relatório da OCDE Education at a Glance 2016 mostra que a maioria dos países-membros daquela organização apresentam um desempenho bastante próximo ao esperado face às metas conhecidas como Desenvolvimento Global Sustentado. Alguns desses países nunca tiveram desempenho muito baixo, mas muitos deles vêm fazendo profundas reformas educativas nos últimos 40 anos. Dos estudos e resultados dessas reformas educativas podemos extrair três lições importantes sobre como melhorar a educação.
Primeiro: reformas bem feitas se fazem de forma progressiva, e por isso os resultados começam a aparecer em prazos relativamente curtos – 5 a 10 anos. O sucesso cria recursos e legitimidade para ampliar a reforma para outros níveis de ensino. Tipicamente a reforma se faz de baixo para cima, melhorando o que já existe a partir dos níveis iniciais. O foco é na qualidade e não na quantidade – nos países desenvolvidos o ano letivo raramente ultrapassa 180 dias e o tempo letivo raramente ultrapassa 800 horas por ano. A expansão vem depois. Só nas últimas décadas os países desenvolvidos começam a universalizar a pré-escola e oferecer programas alternativos para a Primeira Infância. Como há foco, se os resultados não aparecem logo, mudam-se as estratégias.
Segundo: uma reforma é bem sucedida quando ocasiona mudanças na sala de aula. Se as mudanças não se tornam visíveis, se as práticas não mudam e se os resultados não aparecem, a reforma não funcionou. É preciso acompanhar e avaliar para saber disso. Se não deu certo, é preciso mudar de estratégia – ou de ideia.
Terceiro: uma reforma é bem sucedida quando é adequada à situação. Não é boa ideia implementar no Brasil reformas que a Finlândia adota hoje, é mais prudente adotar as estratégias que países em nível semelhante ao nosso adotaram para começar a melhorar. As reformas bem sucedidas começam a partir de uma análise do que deu certo em outros países, das evidências sobre o que funciona e, à falta dessas, das melhores práticas. As boas reformas possuem uma estratégia de intervenção imediata – para angariar visibilidade – e outra de longo prazo – para dar saltos qualitativos sustentáveis.
Fruto da história ou de reformas em cada país, há uma característica comum a todos os países onde a educação funciona: professores qualificados. Isso requer políticas articuladas que incluem: atrair jovens bem qualificados para o magistério, seja egressos do ensino secundário seja de cursos superiores; formação com foco no domínio dos conteúdos a serem ensinados e prática no uso de metodologias comprovadamente eficazes de ensino; estágios probatórios realizados em boas escolas sob supervisão de mestres experientes; ambiente de trabalho e carreira desafiante, com estímulos para quem é bom e saídas para quem não dá certo.
No próximo post vamos apresentar algumas sugestões sobre o que os governos nos três níveis – federal, estadual e municipal – poderiam fazer ou deixar de fazer para melhorar a educação. Acompanhe!