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Quem é Hanneli Goslar, a amiga de Anne Frank que sobreviveu aos nazistas

Relação entre as duas jovens é retratada em ‘Anne Frank, Minha Melhor Amiga’, novo filme da Netflix

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 fev 2022, 18h01 - Publicado em 3 fev 2022, 10h55

Hannah Elisabeth Goslar, chamada também de Hanneli Goslar na versão em hebraico do nome, tinha 14 anos quando foi capturada com seu pai e sua irmã de 2 anos pelos nazistas, em 1943. Um ano antes, Hanneli havia perdido contato com sua melhor amiga, Anne Frank, que, acreditava ela, teria fugido com a família para a Suíça – na verdade, a garota estava em um esconderijo na mesma cidade, em Amsterdã, onde escreveu o hoje incontornável O Diário de Anne Frank. Cinco meses após a captura de Hanneli, Anne, sem saber do paradeiro da amiga, escreveu em seu diário que havia sonhado com ela. “Eu a vi ali, vestida de trapos, o rosto magro e desgastado”, descreve Anne sobre sua visão banhada em culpa: as duas haviam brigado pouco antes da separação e, aparentemente protegida, Anne achou que sobreviveria à guerra, e a amiga não. É assustador ler esse trecho do livro e saber que o contrário aconteceu.

Pouco conhecida, apesar de ser uma porta-voz ativa do legado de Anne, Hannah – hoje com 93 anos e vivendo em Jerusalém –, é a protagonista do filme holandês Anne Frank, Minha Melhor Amiga, lançado esta semana pela Netflix. O longa se divide entre mostrar a amizade e inocência das duas garotas de 13 anos, vividas por Aiko Beemsterboer (Anne) e Josephine Arendsen (Hanneli), durante a ocupação nazista na Holanda, e a experiência de Hannah no campo de concentração.

A aproximação das duas parecia natural. Além de estudarem na mesma escola, eram alemãs e vizinhas em Amsterdã – ambas as famílias fugiram da Alemanha com a ascensão de Hitler e dos ideais antissemitas. Infelizmente, o nazismo se expandiu e tomou a Holanda, espalhando seu rastro de terror. Anne e Hanneli, ingênuas, estavam mais preocupadas com frivolidades da adolescência, como o primeiro beijo ou a profissão do futuro – pouco se sabia das atrocidades dos nazistas até então, e o que se sabia ficava na roda dos adultos. Mais tarde, elas testemunhariam o que havia de pior no ser humano.

Confira a seguir alguns detalhes sobre o filme e sua relação com a realidade:

Família de Hanneli

'Anne Frank, Minha Melhor Amiga'
(//Divulgação)

Ortodoxa, a família Goslar estava em uma situação distinta dos Frank. Eles tentaram fugir do país, conquistando passaportes paraguaio e palestino, mas foram impedidos. A opção de se esconder estava fora de cogitação: a mãe de Hanneli, Ruth Judith, estava grávida e um bebê faria barulho, atraindo a atenção. Sem falar que já havia uma criança pequena na casa, Gabi, de 2 anos. Como mostra o filme, Ruth de fato morreu no parto em casa, sem a possibilidade de ajuda médica. Ex-funcionário do governo alemão e com cidadania palestina, Hans Goslar, pai da família, conseguiu alguns privilégios comparado aos demais judeus. Além de ter a captura de sua família adiada, ele foi alocado com as filhas no campo de concentração Bergen-Belsen, inicialmente feito para a troca de prisioneiros alemães.

Campo de concentração diferente

'Anne Frank, Minha Melhor Amiga'
(//Divulgação)

A experiência no campo de concentração variava dependendo do local. Os principais relatos de sobreviventes afirmam que idosos e crianças menores de 15 anos eram imediatamente assassinados nas câmaras de gás. Cabelos eram raspados, todas as posses retiradas e um uniforme padrão era a roupa geral. Essa não foi a experiência específica de Hanneli em Bergen-Belsen, um campo de troca de prisioneiros. Ela, aos 14, e a irmã criança foram mantidas vivas e puderam manter suas malas, assim como suas roupas de frio – essencial para o inverno alemão. Seu pai ficou no mesmo campo, mas separado das mulheres. A comida era escassa assim como a água. As pessoas, porém, tinham acesso a uma enfermaria improvisada. O trato distinto servia para que elas estivessem minimamente saudáveis para serem trocadas por prisioneiros alemães. Isso não significava, porém, que não estavam em perigo. “As pessoas morriam de fome, de tifo, mas não eram assassinadas”, disse Hanneli. O pai dela foi uma dessas perdas. Ele morreu na enfermaria na mesma época em que foi prometido que seria trocado junto com as filhas por um alemão. A troca nunca aconteceu.

Reencontro com Anne pela cerca

'Anne Frank, Minha Melhor Amiga'
(//Divulgação)

Parece improvável, mas a conversa entre Hanneli e Anne através da cerca que as separava de fato ocorreu. O filme, porém, toma algumas liberdades poéticas. “Um alemão estava na torre de segurança, se me visse, não perguntaria porque eu estava ali, apenas daria um tiro em mim e também em Anne”, contou Hanneli sobre o local onde conversou com a amiga. Apesar de estar em um campo, por assim dizer, menos pior do que Anne, a jovem também não tinha comida. Mas, coincidentemente, ela recebeu dois pacotes de ajuda da Cruz Vermelha naqueles dias pela primeira vez desde o começo da guerra. Algumas das outras prisioneiras  colaboraram com Hanneli para ajudar Anne. Como mostra o filme, o pacote jogado pela garota por cima da cerca foi interceptado por outra prisioneira. Um segundo kit foi montado por Hanneli para a amiga, que conseguiu pegá-lo. O pacotinho tinha um pão cardamomo, ameixas secas e um par de meias. Essa foi a última conversa entre as duas.

O anel

'Anne Frank, Minha Melhor Amiga'
(//Divulgação)

O filme mostra que Hanneli havia guardado uma das joias da família, um anel de diamante que seu pai lhe deu antes de serem levados ao campo. No livro de memórias Hannah Goslar Remembers, da autora Alison Leslie Gold, Hanneli conta que eles deixaram todas as joias de sua mãe em casa, e, consequentemente, elas foram roubadas. A avó de Hanneli estava em Bergen-Belsen com ela. A matriarca ficou doente e morreu ali, mas, antes, entregou à neta um anel de diamantes que ela havia escondido consigo. Com a aproximação do exército Aliado, os nazistas evacuaram o campo de concentração. No caminho, ainda cercadas, Hanneli usou a joia e mais alguns outros poucos pertences das prisioneiras para subornar um dos guardas alemães, que lhes deu um coelho para comerem. Hanneli, então com 14 anos, e sua irmã Gabi, com 3 anos e meio, acabaram cuidadas por um orfanato na Palestina até se mudarem para Jerusalém, onde vivem até hoje. Como queria, Hanneli se tornou enfermeira.

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