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Se a vaca é sagrada na Índia, como os indianos exportam sua carne?

A vaca é um animal sagrado para o hinduísmo, religião de 80% da população da Índia

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 22h18 - Publicado em 13 jul 2016, 15h57

A vaca é um animal sagrado para o hinduísmo, religião de 80% da população da Índia. Seus adeptos acreditam que o bicho encarna valores como o altruísmo e a não-violência. Afinal, a vaca dá muito de si, como o leite e o couro. Em troca, recebe muito pouco: capim e água.

Como os hindus veneram o animal, que é decorado em algumas festividades, eles não comem sua carne. O estranho é que a Índia é o maior exportador mundial de carne. Passou até o Brasil.

Em grande parte esse paradoxo se explica porque a Índia também produz, consome e exporta carne de búfalo. Um em cada dois búfalos do mundo vive por lá. Para os hindus, os búfalos não caem na categoria das vacas e, por isso, podem ser fatiados e comidos. 

Mas não é só isso. Nos contêineres para exportação entra muita carne de vaca clandestina. Tanto é assim que há um programa governamental com o objetivo de instalar laboratórios nos portos para testar a origem da carne.

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De toda a carne que a Índia produz, cerca de 5% é de origem bovina. E essa estimativa não leva em conta os abatedouros ilegais do país. O país só tem registrados 3600 desses estabelecimentos, mas acredita-se que existem 30 000 além desses. Em geral, esses lugares são propriedade de muçulmanos, para os quais não há problema em comer bife de vaca.

Não há uma lei que proíba o abate de vacas em todo o país. Cada estado tem a sua legislação. Em alguns, por exemplo, só não se pode matar vacas leiteiras.

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Como existem essas diferenças regionais, as vacas muitas vezes são obrigadas a ir de um lado para o outro. A cada ano, cerca de 2 milhões delas são contrabandeadas para Bangladesh, onde o abate é permitido. Ou, então, elas vão para os estados indianos em que a legislação é mais permissiva.

Há também uma razão histórica para essa frouxidão. O hinduísmo nem sempre proibiu o abate das vacas. No período Védico (1000 a.C a 500 a.C), os reis hindus sacrificavam vaca e comiam sua carne.

“Os Brahmanas dizem que um búfalo ou vaca deve ser morto quando um convidado chega, uma vaca ser sacrificada para Mitra ou para Varuna, e uma vaca estéril para Maruts, e 21 vacas estéreis devem ser sacrificadas no sacrifício do cavalo”, lê-se em um texto da época, segundo o livro The Hindus: an Alternative History, de Wendy Doniger (Penguin Press).

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Evidências arqueológicas já encontraram ossos de vaca perto de casas antigas com marcas de faca, indicando que a carne foi comida. Havia até a palavra goghna para designar a pessoa que matava a vaca.

A vaca só ganhou o status de sagrada perto do ano 400 d.C.  Mais recentemente, grupos nacionalistas hindus, como o partido Baratiya Janata (BJP), têm reforçado a ideia de que matar vacas é crime. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, é do BJP e há até um projeto para se criar um Ministério da Vaca, para proteger o animal.

Na Índia, de vez em quando, ocorrem casos de linchamento de pessoas, principalmente de muçulmanos, por terem sido acusados de ingerir carne de vaca. Em setembro 2015, um homem islâmico foi morto no estado de Uttar Pradesh por uma turba que o acusava de ter se alimentado de bife bovino. Depois de uma análise forense, descobriu-se que o que ele tinha comido era carne de carneiro.

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O BJP é tão fanático que um instituto de pesquisa estatal já registrou doze patentes do uso de urina de vaca como medicamento. Eles acreditam que o xixi serve para tratar problemas diversos, como diabete, infecções e até câncer. Esse tipo de terapia é mencionado nos textos da medicina Ayurveda.

Mas o BJP obviamente não representa todos os hindus. Nas grandes cidades do país, hindus comem hambúrgueres sem peso na consciência. Cerca de 2% dos hindus admitem comer carne de vaca. Parece pouco, mas isso dá cerca de 12 milhões de hindus carnívoros.

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No site de leilões, OLX, os indianos também colocam suas vacas para vender. É só procurar no setor de “pets”.

A despeito de toda a veneração, a vida de uma vaca na Índia não é nada fácil. A ONG World Animal Protection estima que há 50 milhões de vacas sofrendo no país de fome, excesso de remédios e confinamento precário.

E isso sem contar o risco de sequestro. Em Nova Déli, capital da Índia, criminosos passam pelas ruas recolhendo os animais que estão soltos. Depois, os vendem para abatedouros nas redondezas.

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