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Por Duda Teixeira
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Por que a pornografia é proibida em Cuba?

Ao criar leis extremamente rígidas, a ditadura comunista se coloca na posição de poder mandar qualquer um para a cadeia

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 set 2018, 16h36 - Publicado em 6 fev 2017, 09h41

No avião para Havana, os passageiros são obrigados a preencher os formulários de alfândega. Entre os quadradinhos de opções que precisam marcar caso estejam levando algo impróprio, está pornografia.

 

Detalhe do formulário de alfândega que deve ser preenchido por quem vai para Cuba: pornografia é proibida (Duda Teixeira Veja)
Detalhe do formulário de alfândega que deve ser preenchido por quem vai para Cuba: pornografia é proibida (Duda Teixeira Veja) (Duda Teixeira / Veja)

 

A pobreza e a falta de perspectivas transformaram Cuba em um prostíbulo a céu aberto, mas ainda assim as autoridades do país se orgulham em dizer que o governo está empenhado em manter a moral e os bons costumes. “Aqui não se permite pornografia, drogas ou prostituição. É por isso que temos uma sociedade tão sana”, diz o museólogo Silvio Sanchez, que trabalha em Havana no Museu do CDR, os comitês de bairro em que os vizinhos controlam a vida uns dos outros.

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A campanha de decência começou nos primeiros anos de 1960. Jogos de azar também foram proibidos. “Diziam que queriam moralizar o país. Isso incluía eliminar a prostituição, qualquer tipo de jogo por dinheiro e jogos de azar, incluindo a Loteria Nacional. Fecharam os bilhares, os cassinos, o hipódromo, o canódromo (para corrida de cães), quase todos os bares, tudo, incluindo as rinhas de galo”, escreveu o cubano Pedro Juan Gutiérrez, no livro Fabián e o Caos (Alfaguara).

Outras ditaduras tomaram o mesmo caminho.

Na Coreia do Norte a pornografia também é ilegal. Sequer há aulas de educação sexual nas escolas. A pena por ser flagrado com um filme erótico pode ser alguns anos em um campo de concentração. Em 2013, uma ex-namorada de Kim Jong-un, a cantora Hyon Song-wol, foi levada para o pelotão de fuzilamento com outros músicos, acusada de ter participado de um filme erótico. Ela foi morta apenas três dias depois de ter sido detida.

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Um dos motivos da perseguição à pornografia é desmoralizar o inimigo interno. Com isso, os adversários políticos passam a ser qualificados como despudorados. “Tanto no governo de Cuba como na ditadura militar brasileira (1964-1985), durante a Guerra Fria, surgiu uma ideologia que incluía tentativas de minorar a moralidade do inimigo”, diz o historiador Benjamin Cowan, da Universidade George Mason, autor do livro Securing Sex: Morality and Repression in the Making of Cold War Brazil (The University of North Carolina Press). Aqueles que conspiravam contra a ditadura eram os mesmos que organizavam orgias.

 

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Como uma boa parcela das sociedades costuma ser socialmente conservadora, o regime em questão pode ganhar um pouco de aprovação popular e, de quebra, suscitar a repulsa a seus detratores.

Mas não é só isso. Escolher a pornografia como um tema para a repressão também é uma maneira de colocar todo e qualquer cidadão em uma situação suscetível. “Todo mundo se masturba, com um grau menor ou maior de fantasia. Então é como se todo mundo pudesse ser preso em algum momento”, diz o músico e matemático Ciro Díaz, da banda de punk rock cubana Porno para Ricardo e que atualmente estuda em Campinas, no interior de São Paulo. “Em Cuba, tudo é proibido. Com isso, todos vivem em uma ilegalidade, eles podem ser colocados na cadeia sem muita justificativa”.

Por fim, o combate à pornografia pode ser usado como uma justificativa para exercer um controle total sobre a sociedade, em qualquer área. Em 2009, o Ministério da Indústria e da Tecnologia da Informação da China criou um software para detectar pornografia na internet chamado Barreira Verde (Green Dam, em inglês). “Mas o software também bloqueou acesso a muitos outros tipos de sites envolvendo questões políticas, legais e de direitos humanos. Ele também criou um arquivo de todos os sites visitados, permitindo potencialmente que o governo pudesse monitorar onde os usuários navegavam na internet”, escreveu o americano Bruce Dickson, no livro The Dictator´s Dilemman: The Chinese Communist Partt´s Strategy for Survival.

 

Assista ao vídeo:

Pornô para Fidel, em Mundo Livre, TVEJA

 

Mas a explicação mais exótica para atacar a pornografia vem da Rússia que, ainda que não seja uma ditadura escancarada, está quase lá. Em 2016, o Serviço Federal de Telecomunicações, Tecnologia e Informação e Meios de Comunicação do país tirou do ar dois sites de vídeos pornográficos, o Pornhub e o YouPorn. O motivo, dado na rede social Twitter, foi de que com demografia não se brinca. Estranho? Pois é, para muitos russos conservadores, a pornografia desvia a atenção das pessoas, que deveriam estar em casa fornicando e produzindo novos russos. 

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