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Dora Kramer

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Se não mata, engorda

Corte ideológico do governo ajuda na reorganização da oposição

Por Dora Kramer
16 nov 2018, 07h00

Um governo nítida e declaradamente de direita é uma novidade no Brasil do mais recente período democrático. Desde a retomada do poder civil, nenhum dos presidentes eleitos se apresentava com esse corte ideológico. Ao contrário, Fernando Henrique, Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff são oriundos da esquerda. Fernando Col­lor, o que mais se aproximava de uma definição a ser entendida como de direita, não se apresentou assim à sociedade, que tampouco levou o debate para o campo ideológico.

Os eleitos indiretamente pelo colégio eleitoral da transição, Tancredo Neves e José Sarney, in­dependentemente do histórico político, apresentavam-se no máximo como “de centro”. Essa questão, aliás, não tinha peso específico. Importante mesmo era que estávamos livres da ditadura; a expectativa era que o poder civil tocasse o país na estrita observância do estado de direito.

A introdução da dinâmica do “nós contra eles” vem alterar esse equilíbrio. Do acirramento das rivalidades viemos parar num governo de corte ideológico nítido, e a direita perdeu a vergonha de dizer seu nome, saiu do armário. Pode até assustar quem não estava acostumado, mas não é o fim do mundo, muito menos justifica certos temores cuja exacerbação militante denota simples falta de traquejo para lidar com a realidade. Isso na melhor hipótese. Na pior, recende a fantasias saudosistas de combate numa luta não vivida. Ainda bem que os menores de 40 não sabem o que foi aquilo.

Os maiores, que sabem, são irresponsáveis e inúteis ao pretender liderar no presente uma luta baseada em evocações do passado fazendo chamamentos à “resistência” e bobagens que tais. Melhor que resistir é organizar-se para ­atuar. Oposição? Nesse período nunca tivemos, a não ser o PT. Quando o partido vira situação, desarticula-se o contraditório. Os derrotados, escolhidos pelo eleitor para fazer oposição, não deram conta do recado. Fosse por temperamento, fosse por falta de treino ou intimidação decorrente da hegemonia de ação e pensamento patrocinada por Lula.

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A eleição de Jair Bolsonaro, a derrocada do PSDB e a decisão de forças residentes na centro-­es­querda e na esquerda do cenário político de se livrarem do jugo petista abrem pela primeira vez espaço para que a oposição se reorganize em mol­des novos. Por serem novos, não há modelo a ser seguido. Aquele adotado no combate à ditadura obviamente está vencido. Será preciso recriar a fórmula, evidentemente adaptada aos tempos atuais. Aqui se incluem os partidos, claro, mas também seria de todo conveniente (para não dizer indispensável) que entidades daquilo que se convencionou chamar de sociedade civil, adormecidas e entorpecidas durante os governos do PT, começassem a se mexer para renascer. Não necessariamente restritas à dinâmica do “contra”, mas principalmente voltadas à retomada de um lugar relevante na interlocução pessoal.

A convivência com um governo de direita não mata e, se bem aproveitada para o bom exercício do antagonismo, quem sabe até engorda e faz crescer.

Publicado em VEJA de 21 de novembro de 2018, edição nº 2609

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