O estilo faz o homem
Renan Calheiros é useiro de vezeiro na arte de virar oposicionista quando tem seus interesses contrariados.
Nessa encenação contra o governo, o senador Renan Calheiros está apenas sendo o Renan Calheiros de sempre. Movido pelas mesmas razões escusas. Faz esse teatro desde o tempo em que transitou de líder do governo durante a República das Alagoas para a condição de oposicionista durante o processo de impeachment de Fernando Collor. Ali começou a construir uma carreira de político influente. A adulação _ da imprensa, inclusive _ durou até quando começaram a surgir as evidências de que por trás da máscara de moço bom havia um homem sem limites, disposto a qualquer coisa pelo poder. Surfou na onda daqueles que não sabiam da missa de sua vida a metade.
Agora posa de opositor a Temer por dois motivos: gostaria, mas não consegue dar as cartas na alocação de aliados em postos-chave da máquina do Estado e também gostaria, mas não consegue mais exercer influência de quando era presidente do Senado. Perdeu espaço e prestígio. Da reputação dá notícia a mais de uma dezena de ações a que responde no Supremo Tribunal Federal. Busca, então, recuperar terreno no berro, intimidando e insultando. Uma espécie de precursor de Eduardo Cunha.
Outrora, nos idos da década dos 90, resolveu se opor a Collor por um motivo: na reta final da eleição para governador de Alagoas, em 1990, descobriu que Paulo César Farias, arrecadador do grupo, mandara os doadores (notadamente os mais abastados, de São Paulo) cortarem o envio de recursos à campanha dele porque Collor queria que o eleito fosse seu opositor Geraldo Bulhões. Ambos tinham o apoio do então presidente, mas a aliança com Bulhões é que era a verdadeira. Derrotado, partiu então para a denúncia de que as eleições haviam sido fraudadas. De fato, naquele ano a justiça eleitoral anulou e mandou repetir as votações em alguns municípios. Inclusive alguns controlados pela família Calheiros.