
Cuidadoso na escolha das palavras, ao ponto da ambiguidade, no conteúdo Jair Bolsonaro não poderia ter sido mais explícito no pronunciamento desta quinta-feira, 16: exigiu do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, aval para tornar mais flexível a recomendação do isolamento social como a melhor forma de reduzir a disseminação do novo corona vírus.
O presidente falou em defesa de vidas, mas dedicou muito mais espaço à defesa da volta das atividades econômicas para além daquelas essenciais, hoje permitidas. Fez críticas veladas à decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a autonomia de estados e municípios, mas aos governadores e prefeitos dirigiu ataques mais agressivos: simplesmente os responsabilizou pela penúria que vier a acometer a população e o país em decorrência dos “exageros” na aplicação da paralisação da economia.
Já o novo ministro, que como médico oncologista defendeu em artigos o isolamento horizontal, criticando o “vertical” preferido de Bolsonaro, hoje ao falar ao lado do presidente recorreu a uma ginástica verbal a fim de não negar suas posições, mas também não desagradar ao novo chefe. Francamente, não conseguiu se explicar de que maneira pretende conduzir o ministério da Saúde nessa situação dramática.
É preciso dar tempo a Nelson Teich, inclusive para se descolar da sombra de um antecessor altamente bem visto na sociedade, no mundo científico e até no universo político. No campo da comparação, terá o duplo desafio de manter o nível da condução da pasta que agora assume e dialogar com o público com a clareza, a empatia, o conhecimento e a firmeza que caracterizaram a conduta de Luiz Henrique Mandetta na crise.