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Por Laryssa Borges
A repórter Laryssa Borges, de VEJA, relata sua participação em uma das mais importantes experiências científicas da atualidade: a busca da vacina contra o coronavírus. Laryssa é voluntária inscrita no programa de testagem do imunizante produzido pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
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Voluntários que receberam placebo devem ser vacinados imediatamente?

É justo que quem se propôs a auxiliar a ciência não seja imunizado quando o fármaco que ajudou a desenvolver estiver pronto?

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 jan 2021, 11h14

28 de janeiro, 9h18: Nos últimos dias, quatro voluntários recrutados no Rio de Janeiro para testar a vacina experimental desenvolvida pela Janssen-Cilag procuraram a clínica que conduz o estudo clínico com pedidos para que o sigilo de seus dados na pesquisa fosse aberto imediatamente. Os quatro são profissionais de saúde da linha de frente de enfrentamento da pandemia e teriam direito de receber de pronto as duas doses do imunizante de Oxford, cujo primeiro lote, de 176.220 ampolas, começou a ser distribuído no Rio na segunda-feira 25. Com a oportunidade da vacina concorrente batendo à porta, pediram à equipe médica que os informasse se haviam tomado placebo ou a vacina verdadeira da Janssen e se poderiam ou não atender ao chamado de vacinação com o antígeno de Oxford.

O centro de comando da pesquisa sobre a vacina teve de ser consultado sobre a situação, e o duplo-cego acabou quebrado para esses quatro casos. Os que haviam recebido placebo decidiram não aguardar a conclusão da pesquisa da Janssen. Aqueles que receberam o fármaco com princípio ativo foram orientados a aguardar até a semana que vem, quando deve ser anunciada a eficácia do produto desenvolvido pelo braço farmacêutico da Johnson & Johnson. Ouviram ainda a garantia de que serão vacinados com o imunizante da Janssen logo após a abertura dos dados dos 45.000 voluntários e da entrada com o pedido de uso emergencial do biofármaco em órgãos reguladores. Mas voluntários de pesquisas sobre vacinas que receberam placebo devem mesmo ser imunizados imediatamente?

No termo de consentimento que assinei como voluntária da Janssen sou informada de que “os participantes do estudo que receberem placebo podem receber a vacina do estudo sem nenhum custo quando a vacina se mostrar segura e eficaz, de acordo com critérios éticos e questões sobre a vacina relacionadas à duração da proteção, segurança e outras considerações necessárias no momento que mostrar a eficácia”. Vago o suficiente para alimentar a dúvida se seremos ou não imunizados imediatamente.

A discussão sobre imunizar pacientes que receberam placebo ganhou corpo em novembro passado, quando a pesquisa clínica da Janssen-Cilag sobre a Covid-19 mudou suas diretrizes nos Estados Unidos. Pacientes que se inscreveram no estudo clínico americano receberam indicativos de que podem receber a vacina apenas ao final de dois anos, quando o experimento será oficialmente concluído. O motivo para não se proteger desde já voluntários que receberam doses sem eficácia é a tese de que, com todos imunizados, os cientistas não teriam mais como comparar a situação clínica dos vacinados com a daqueles que ainda estão vulneráveis ao vírus. Os adeptos dessa interpretação alegam que, sem o duplo-cego, as pesquisas se transformariam apenas em observacionais, que é quando os pesquisadores acompanham a reação dos pacientes já sabendo de antemão a condição de cada um, abrindo caminho para interpretações preconcebidas. Uma outra ressalva dos defensores de se manter o duplo-cego é a hipótese de, vacinando todos os pacientes, eventos não relacionados aos imunizantes que ocorram com qualquer um dos voluntários poderem ser atribuídos incorretamente a efeitos deletérios da vacina, fortalecendo movimentos antivacinas.

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Em sentido contrário, apoiadores da vacinação imediata dos voluntários levantam uma questão ética: é justo que alguém que se propôs a auxiliar a ciência testando uma vacina experimental se mantenha firme no placebo e não seja imunizado quando o fármaco que ajudou a desenvolver estiver pronto?

De volta ao caso brasileiro, questionei o pesquisador principal do estudo clínico de que faço parte para saber se a situação ocorrida nos Estados Unidos se repetirá no Brasil. A resposta não deixa de ser um alívio: as vacinas  de quem recebeu placebo já estão reservadas, e a Janssen se prepara para mandar a identificação (uma série de números e um QR Code) de cada voluntário informando a equipe médica se tomamos soro fisiológico ou vacina de verdade. A data da vacinação ainda não está definida, mas, se recebi placebo naquele dia 17 de novembro, meu braço está desde já a postos para o imunizante real.

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