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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Saúde mental é indispensável no esporte

Alvos de fortes pressões e cobranças, atletas profissionais têm no cuidado psicológico um fator tão importante quanto o treino físico

Por Claudio Lottenberg
9 dez 2022, 09h46

O historiador e linguista holandês Johan Huizinga (1872-1945) diz, em sua obra “Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura”, que estamos habituados a dissociar as ideias de jogo e seriedade. Mas ele chama atenção para o fato de que o esportista “joga com o mais fervoroso entusiasmo, ao mesmo tempo que sabe estar jogando”. Vamos o quão concentrados os atletas ficam quando estão em atividade: a concentração antes do chute ao gol, durante uma corrida, entre os lutadores de boxe. Ninguém ali está brincando.

Lembremos que a Olimpíada, reinaugurada no fim do século 19, é uma tradição surgida na Grécia antiga como ligada ao competições de que os próprios deuses participavam. Embora o caráter ritualístico no sentido de algo sagrado tenha se dissipado, ou mesmo se perdido, essa condição de forte compenetração persiste hoje. O esporte acabou por criar uma ligação mais com o ramo do entretenimento – sem que isso tenha reduzido a seriedade da prática esportiva, pelo contrário.

Hoje, há expectativas sobre o atleta que representam uma carga de forte pressão. À margem dos muitos milhões (de reais, dólares, euros, seja a moeda qual for) envolvidos no registro dos negócios ligados ao esporte, para o atleta o que conta é a competição e, claro, a vitória. Um atleta de elite hoje tem à disposição para se preparar recursos que o levam ao pico do desempenho físico humano, e a busca por ficar no topo certamente cobra um preço psicológico. Algumas vezes, a saúde mental pode mesmo determinar o rumo que o atleta seguirá – como aconteceu com a ginasta norte-americana Simone Biles, que preferiu lidar com seu bem-estar mental a permanecer na competição na Olimpíada de Tóquio, em 2020. Convém lembrar, claro, que o mundo estava no auge da pandemia de covid-19 e o medo do contágio estava por toda parte.

Para os atletas amadores, a vida de quem tem no esporte seu meio de vida pode parecer fascinante, seja pelos motivos mais imediatos – a glória da vitória, a sensação de realização por superar os próprios limites – seja pelos não tão imediatos – como a fama e as remunerações astronômicas (ainda que estas sejam reservadas a alguns apenas).

O fato que é competir, no nível dos atletas profissionais, pode ter um alto custo para a saúde mental, e prejudicar o próprio desempenho. Faz parte do treinamento o cuidado com a saúde mental, tanto quanto o preparo físico, a nutrição, o acompanhamento da fisiologia mesma do atleta.

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Na Copa, vemos jovens no auge de suas capacidades físicas sob os holofotes do mundo todo. Países inteiros torcem por eles. Não é pouca coisa. Pode fazer inclusive com que aflore um desejo de aparecer mais que os colegas de equipe – o que prejudica o desempenho da própria equipe. A derrota, então, pode ter um peso massacrante na auto-estima dos atletas: ofensas, críticas, da torcida, de comentaristas, pode ser uma carga pesada demais sobre os ombros de qualquer um.

Cuidar da saúde mental de atletas já tem inclusive uma especialidade, a psicologia do esporte – que passou a ganhar espaço a partir de 1965, a partir do 1º Congresso Mundial de Psicologia do Esporte (realizado em Roma e organizado pelo psiquiatra Ferruccio Antonelli). Até porque se trata de uma atividade que envolve volumes expressivos de dinheiro, o esporte profissional entendeu que não se pode deixar um atleta profissional lidar sozinho com as pressões impostas por sua atividade.

Mas há uma barreira cultural a vencer. Muitas vezes, a própria excelência física pode levar alguns a terem de si uma imagem de invencibilidade. Ajuda psicológica ainda tem um estigma que se mostra difícil de superar mesmo para a população em geral. Para atletas de quem se espera sempre resultados excelentes, ter um acompanhamento pode significar até mesmo continuar ou desistir da carreira.

Os modernos Jogos Olímpicos têm por lema “Citius, Altius, Fortius” (“Mais rápido, mais alto, mais forte” em latim). Faz ver que as expectativas são as maiores possíveis. No mundo moderno, com redes sociais e a permanente observação global sob a qual atletas vivem, é preciso lembrar que, tanto quanto qualquer um de nós, eles são seres humanos, com desejos, medos, esperanças e alegrias tais quais as nossas. A saúde mental é tão importante quanto o preparo físico. Talvez seja o caso de acrescentar ao lema olímpico uma extensão – esta vinda da “Sátira X”, do poeta romano Juvenal: “Mens sana in corpore sano” (“Mente sã em um corpo são”).

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