Hora de planejar a vacinação dos jovens
Eles foram privados do convívio social ao longo de mais de um ano de distanciamento social, e isso tem um custo
No Brasil está em curso, ou prestes a começar, o cadastramento de jovens de 12 a 17 anos para receberem a vacina contra a Covid-19. Nos EUA, o FDA (Food and Drug Administration, a agência que regula medicamentos no país) já autorizou o uso emergencial de um imunizante em pessoas com idades entre 12 e 15 anos. Além disso, laboratórios produtores de vacina deram início a testes para averiguar segurança e tolerabilidade de se passar a imunizar essa faixa etária e também crianças em idades menores. No Brasil, em que a vacinação ainda segue em ritmo lento, ficamos com a pergunta: quando vacinaremos nossos jovens?
Uma semana depois de o FDA ter aprovado o uso emergencial da vacina em adolescentes de 12 a 15 anos, cerca de 600 mil já a tinham recebido, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenções de Doenças, principal órgão de saúde norte-americano). Em meados de maio, os Estados Unidos haviam vacinado mais de 4 milhões de pessoas com menos de 17 anos de idade.
O governo de Israel autorizou, em maio, que a vacinação chegasse à faixa etária de 12 a 15 anos, mas a vacinação a partir dos 16 estava em andamento há uns meses. A autorização dos órgãos de saúde abriu a oportunidade para imunizar cerca de 600 mil crianças no país – que já imunizou cerca de 58% de sua população. A imunização vai começar pelas crianças com maior risco de apresentar sintomas graves da Covid-19 e por aquelas que vivem com familiares igualmente em risco de desenvolver as formas mais severas da doença.
O caminho para a imunização dos jovens já é trilhado – ou ao menos foi aberto – também por Nova Zelândia, França, Canadá, Japão, Itália, Alemanha, Áustria, entre outros. A China autorizou o início do uso emergencial da vacina produzida no país em crianças a partir de 3 anos de idade.
Se para nós, adultos, a Covid-19 causou perdas irreparáveis e prejuízos profundos, para as crianças e adolescentes brasileiros isso tudo também se deu de maneira mais acentuada. Eles foram apanhados por uma pandemia que tem causado danos que custarão a ser revertidos – não só em suas formações escolares, que são a perda mais evidente, mas em termos de formação de suas personalidades. Afinal, foram privados do convívio social ao longo de mais de um ano de distanciamento social, e isso tem um custo. Ansiedade, desatenção, irritabilidade e solidão são apenas alguns dos efeitos negativos para a saúde mental.
Como na vacinação de adultos, a de jovens e crianças não se dá sem alguma resistência: pais se preocupam com efeitos colaterais dos imunizantes. O FDA verificou que, até 31 de maio, houve cerca de 800 casos de efeitos colaterais cardíacos – isso, como já apontado, num universo de milhões de doses já aplicadas, o que representa uma margem ínfima. O órgão informou ainda que houve outros efeitos colaterais entre os adolescentes que participaram do ensaio clínico, como cansaço e dores de cabeça – semelhantes aos apresentados por pessoas de mais de 16 anos que foram vacinadas. Tais efeitos colaterais mostram, claramente e com todas as evidências, que mais vale vacinar-se do que correr o risco de contrair a doença.
A iniciativa de que a vacinação de jovens no Brasil tenha início deve ganhar impulso. Os imunizantes têm se mostrado eficientes para os adolescentes e crianças dos países que passaram a inclui-los na vacinação. A pandemia nos deixou assustados, e embora já se veja cada dia mais países retomando, ainda que parcialmente, a normalidade, há nações mais pobres que mal começaram a imunizar suas populações. Além disso, lugares que haviam começado a reabrir, como a Inglaterra, sofreram revezes recentes, com o avanço de variante da doença.
Sem dúvida: só sairemos do atual cenário com a vacinação – que deve ser cada vez mais ampla. É preciso observar o que se fez na vacinação no Brasil até aqui para que, quando chegar o momento de vacinar crianças e adolescentes, o processo se realize de forma célere e eficiente – e recupere para o Brasil a excelência que sempre teve em programas de imunização. Os jovens são nosso futuro e, para que recuperem o quanto antes o tempo que a pandemia lhes tomou, a vacinação é fundamental.