Rasgação de seda de Lula para Maduro só prova que 2026 já começou
Afagos exagerados do presidente ao líder venezuelano mostram um governo empenhado em reacender a polarização
Não era surpresa para ninguém que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reataria as relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela. A guinada na política externa brasileira era certa desde a campanha e vinha, inclusive, embasada em argumentos pautados por interesses comerciais do país. Mas a rasgação de seda que o presidente brasileiro deu de presente a Nicolás Maduro conta uma história diferente.
Não foi sobre balança comercial ou relações bilaterais. Para tentar entender os motivos por trás das falas de Lula, o jeito é olhar os resultados que elas produziram. Como era de se esperar – e Lula certamente esperava por isso -, não há nada como uma Venezuela para reacender o discurso de seu adversário favorito, Jair Bolsonaro.
Para Lula, neste momento, nada melhor do que uma palhinha da boa e velha polarização que contribuiu para levá-lo ao Palácio do Planalto. Afinal, a vida do governo não anda lá muito fácil, por exemplo, no Congresso Nacional. Ontem, depois do encontro do petista com Maduro, ninguém mais falava sobre o prazo limite para a votação da medida provisória que reestrutura a Esplanada e os sinais de esvaziamento da política ambiental do governo.
O que se viu ontem reflete ao menos em parte a máxima de que, politicamente, Lula depende de Bolsonaro e vice-versa. A festa no bolsonarismo nas horas que sucederam o discurso do petista era evidente. Hoje cedo, as redes dos filhos do ex-presidente amanheceram recheadas. Eduardo Bolsonaro, por exemplo, foi para o Twitter. Ao som de uma trilha emocional, notícias trágicas sobre a Venezuela eram intercaladas com cenas de Bolsonaro soltando o verbo: “Quem o ex-presidiário apoiou no passado? Apoiou Chavez, apoiou Maduro”.
O jogo por trás do encontro de Lula com Maduro é só mais um sinal de que as atenções já estão lá em 2026. Ganha Lula, ganha Bolsonaro. Enquanto a diplomacia brasileira cai lá para baixo na lista de prioridades.
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