Demissão de militares é só parte da ‘faxina ideológica’ no governo Lula
Preocupação com 'infiltrados' bolsonaristas abrange todas as áreas do governo, mas presidente pede cautela
A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de exonerar dezenas militares que atuavam no Gabinete de Segurança Institucional está longe de ser uma surpresa. O próprio Lula nunca escondeu os planos. Chegou a dizer que perdeu a confiança em parte da equipe tradicionalmente responsável por cuidar da segurança do chefe do Executivo e do seu entorno. Era esperado. Mas é só um passo de uma faxina muito mais ampla, que o governo tenta conduzir com cautela extrema.
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A ideia de livrar a administração federal de bolsonaristas radicais já está estampada desde o início do governo em várias frentes. Ela existia bem antes dos atos golpistas de 8 de janeiro, mas, naturalmente, ganhou força depois dos ataques. No caso específico dos militares, há no entorno de Lula uma preocupação real em “separar o joio do trigo”. Evitar que esse processo vire um confronto com as Forças Armadas, que Lula quer e deve querer evitar.
Mas o pente-fino alcança também outras áreas. É esse filtro, como relatou a coluna nas últimas semanas, que vem atrasando nomeações de centenas de cargos no segundo escalão. É também um fator que contribui para travar a escolha de diretores em empresas estatais. Aliados de Lula entendem a tal faxina como necessária. Mas admitem que ela pode servir também de justificativa para setores que tentam abocanhar espaço no segundo escalão.
O que não falta nos corredores do governo é teorias sobre qual seria a melhor abordagem para lidar com o problema. Tem quem defenda que Lula deve evitar deflagrar uma espécie de caça às bruxas, na linha de que o melhor é não cutucar onça com vara curta. Tem outra ala que defende que o melhor é arrancar logo o band-aid. Até José Dirceu andou arriscando seus palpites nas conversas reservadas. Como relatou ontem esta colunista, Dirceu acha que o ex-presidente Jair Bolsonaro quer montar um exército de infiltrados na nova gestão. Ele os chama de “os oligarcas” de Bolsonaro.
Toda vez que um ministro cogita a manutenção ou indicação de quadros com histórico de atuação no governo Bolsonaro, acende-se um sinal amarelo nos bastidores. Tem sido comum a disparada de telefonemas entre auxiliares do presidente, trocando informações a respeito do currículo de potenciais indicados. A atenção, dizem aliados de Lula, é ainda maior quando as sugestões partem de legendas que aderiram a Lula na eleição, mas que não fazem parte da base histórica do PT. Mas Lula, por enquanto, vem batendo na mesma tecla: tudo deve ser feito com extrema cautela. Até para que todo esse processo não se volte contra o próprio governo lá na frente.
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