Da ‘gripezinha’ à ‘cartinha’, Bolsonaro segue repetindo seu maior erro
Ao menosprezar o tamanho do problema, presidente insuflou manifestos em defesa da democracia
Até mesmo entre os auxiliares mais próximos do presidente Jair Bolsonaro ainda há quem busque uma explicação para sua insistência em bater de frente contra os movimentos que lançaram nas últimas semanas manifestos pela democracia. Bolsonaro poderia ter feito tudo diferente. Poderia ter saído ele próprio em defesa do estado democrático de direito ou apontado interesses políticos de setores que apoiam esses documentos. Poderia até ter ficado quieto. Mas preferiu usar a mesma receita que usou no início da pandemia. Trocando “gripezinha” por “cartinha”.
As circunstâncias são absolutamente distintas, mas a premissa é a mesma: Bolsonaro menospreza o tamanho do problema. O presidente tratou as cartas pela democracia lançadas por integrantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e pela Fiesp como bobagens passageiras, incapazes de atrapalhar seus planos políticos.
A “cartinha” que será lida hoje em um ato simbólico no Largo São Francisco, reforçado por eventos semelhantes em universidades espalhadas por todo o país, já passa de 900 mil adesões. O documento foi elaborado com o cuidado de não citar nominalmente o presidente, embora esteja mais que evidente que ele é o único destinatário. Mas foi o próprio Bolsonaro quem se apresentou publicamente como alvo. E ainda desafiou os autores do documento a mostrarem a que vieram.
Provavelmente, o documento jamais teria alcançado tamanha adesão, não fosse a reação do presidente. Quem é próximo de Bolsonaro repete com frequência a máxima de que o presidente é assim. Fala o que pensa e paga para ver. Mais uma vez, foi ele quem perdeu a aposta.
+Leia também: Depois de 45 anos, Brasil terá a leitura de outro manifesto pela democracia