Bolsonaro montou armadilha para Lula e conseguiu o que queria
Largada da campanha puxou o debate para a zona de conforto do presidente, escanteando discussão sobre Economia
Sem resultados com o megapacote de bondades lançado para a eleição, restou à campanha do presidente Jair Bolsonaro armar uma operação para desviar o debate. Não é preciso muito esforço para ver que o movimento feito pelo time bolsonarista nas últimas semanas teve um objetivo claro: escantear a discussão a respeito da economia e dos problemas que fazem parte do dia a dia dos eleitores, trazendo de volta a pauta de costumes.
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Ao que tudo indica, a estratégia não podia ter dado mais certo. O que se viu ontem, na largada oficial da campanha presidencial, foram o escanteamento das discussões sobre a inflação, a perda do poder de compra dos consumidores, os desafios que se apresentam na área social, a dificuldade de dar perenidade a medidas como o Auxílio Brasil. As propostas para o país caíram lá para baixo na lista de prioridades. Em seu lugar, entrou o debate religioso.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou, exatamente como queriam os bolsonaristas. Ontem, durante os atos que marcaram o primeiro dia em que políticos ficam autorizados a pedir votos, Lula saiu dizendo que o adversário está “possuído pelo demônio”. Enquanto isso, Bolsonaro se vendia como pré-destinado a liderar o país. Um enviado de Deus, que leva ao seu lado a primeira-dama Michelle Bolsonaro, a mais nova porta-voz da campanha para o eleitorado evangélico.
Já faz algumas semanas que os petistas enxergaram o movimento de Bolsonaro. A campanha petista inclusive se movimentou para fazer frente ao avanço sobre o eleitorado evangélico. Como a coluna mostrou, aliados de Lula passaram a consultar especialistas e encomendar estudos sobre o tema, para reavaliar a estratégia. O assunto também foi tema de reuniões internas da campanha.
O esforço do PT é válido e necessário. Até porque os últimos levantamentos de intenção de voto, como a pesquisa Genial/Quaest divulgada ontem, mostram que Bolsonaro está de fato crescendo junto a essa parcela da população. Mas cabe à campanha de Lula agora dosar até que ponto vale a pena embarcar na discussão. Afinal, puxar a campanha com tanta intensidade para esse lado interessa, antes de tudo, a Bolsonaro.
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