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Pelo segundo ano consecutivo, Pritzker valoriza profissional com atuação social e elege Frei Otto, morto nesta semana

Tristes circunstâncias levaram o júri do prêmio Pritzker, a mais importante premiação da arquitetura mundial, a antecipar em duas semanas a divulgação do vencedor deste ano. O escolhido, cujo nome seria relevado apenas no final deste mês, morreu na última segunda-feira (10) aos 89 anos: Frei Otto, arquiteto alemão conhecido pela criação das tendas metálicas utilizadas como cobertura nas […]

Por Mariana Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jun 2024, 09h44 - Publicado em 14 mar 2015, 09h00
Parque Olímpico de Munique, coberto pelas estruturas metálicas de Frei Otto para os jogos de 1972

Parque Olímpico de Munique, coberto pelas estruturas metálicas de Frei Otto para os jogos de 1972

Tristes circunstâncias levaram o júri do prêmio Pritzker, a mais importante premiação da arquitetura mundial, a antecipar em duas semanas a divulgação do vencedor deste ano. O escolhido, cujo nome seria relevado apenas no final deste mês, morreu na última segunda-feira (10) aos 89 anos: Frei Otto, arquiteto alemão conhecido pela criação das tendas metálicas utilizadas como cobertura nas Olimpíadas de Munique, em 1972.

Equivalente ao Nobel da arquitetura, o júri do Pritzker escolhe anualmente profissionais cuja carreira tenha contribuído significativamente para a evolução do ofício. Com a notícia da morte de Otto, os organizadores decidiram revelar ter sido ele o eleito desta 40ª edição. O arquiteto já havia sido notificado sobre o prêmio no início deste ano, quando a diretora executiva, Martha Thorne, viajou até Leonberg, uma cidadezinha perto de Stuttgart, onde ele vivia. Na ocasião, Otto já estava cego, embora seu quadro geral de saúde fosse bom. A família — ele deixa mulher e cinco filhos– não divulgou a causa de sua morte.

Otto nasceu em 1925, filho de um escultor, e aos 15 anos construía miniaturas de aeronaves de aeromodelismo. Aos 17, foi convocado para servir ao exército alemão na Segunda Guerra Mundial. Foi capturado e levado para um campo de prisioneiros da França, experiência que o despertou para a importância de se criar abrigos temporários baratos. Em 1952, abriu escritório para dedicar-se a pesquisas nesta temática. Era fascinado pela estrutura da bolha de sabão, o que o inspirou em vários projetos.

Frei Otto, vencedor do prêmio Pritzker deste ano, morreu na última segunda-feira (10)

Frei Otto, vencedor do prêmio Pritzker deste ano, morreu na última segunda-feira (10)

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As coberturas metálicas usadas em Munique foram o ponto mais alto de sua carreira e influenciaram gerações de arquitetos que vieram depois dele. Um desses discípulos foi o japonês Shigeru Ban, vencedor do Pritzker no ano passado e celebrado por seu trabalho com tubos de papelão (leia aqui). A escolha por Otto representa, portanto, a segunda vez consecutiva em que os organizadores do prêmio privilegiam profissionais preocupados com questões ambientais e sociais, a chamada arquitetura cidadã, do que autores de obras mirabolantes, na linha do que é feito pelos starchitects (leia mais aqui).

O que se percebe é que está em andamento uma mudança na escala de valores do que é considerado uma boa obra arquitetônica, transformação que teve seu pontapé inicial com a crise financeira de 2008 e segue impulsionada pelas preocupações com o clima e a sustentabilidade. A mudança é interessante, mas ainda não deixa claro quais são os requisitos para se encaixar no novo modelo. Diz o crítico de arquitetura Fernando Serapião: “O prêmio do Frei Otto recupera um figura fora do cenário, que não produzia nada de relevante há décadas. Fica a pergunta: não se encontrou nenhum arquiteto na ativa que mereça o prêmio e trabalhe com o foco ambiental e social?”.

Para Serapião, havia, sim, outras figuras de destaque nesta seara e que talvez merecessem ainda mais serem lembradas por sua contribuição cidadã. É o caso como Peter Rich, inglês que mora em Joanesburgo, na África do Sul, e foi um importante ativista na era do apartheid, criando instalações para a população negra. Ou então Samuel Mockbee, norte-americano morto em 2001 e que trabalhava com comunidades pobres e negras do Alabama.

Emerge ainda o nome de João Filgueiras Lima, o Lelé, um dos mais importantes arquitetos brasileiros e que faleceu no ano passado, aos 82 anos (leia mais neste post). Contemporâneo de Oscar Niemeyer, Lelé dedicou-se à pesquisa de peças e processos de pré-fabricação capazes de baratear as construções sem comprometer o resultado final, algo fundamental em um país pobre como o Brasil. Apesar do empenho, nunca realizou seu sonho. Faliu por duas vezes ao criar fábricas de concreto pré-moldado e estruturas semelhantes. Viajava por todo o país para disseminar a importância de cursos de treinamento para arquitetos e engenheiros aprenderem a usar esses materiais. Sua obra mais conhecida é a Rede Sarah de hospitais, onde são oferecidos serviços de saúde sem fins lucrativos. “A morte alcançou-o antes da mudança de postura do Pritzker”, diz Serapião.

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Quem sabe a eleição de Otto neste ano sinalize certa disposição dos organizadores em trazer Lelé de volta ao páreo para disputar, ainda que postumamente, um importante reconhecimento de seu legado e de novos valores da arquitetura contemporânea.

Por Mariana Barros
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