Em São Paulo, disposição em trocar carro por bicicleta é maior quanto mais baixa a escolaridade e a classe social
Homens com ensino fundamental e pertencentes às classes D e E são os mais propensos a trocar o carro pela bicicleta em seus trajetos diários pela cidade de São Paulo. Os dados fazem parte de um levantamento exclusivo realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas e divulgado parcialmente aqui no blog na semana passada. A pesquisa mostrou […]
Homens com ensino fundamental e pertencentes às classes D e E são os mais propensos a trocar o carro pela bicicleta em seus trajetos diários pela cidade de São Paulo. Os dados fazem parte de um levantamento exclusivo realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas e divulgado parcialmente aqui no blog na semana passada. A pesquisa mostrou que, na hipótese ideal de haver uma ciclovia que ligasse a casa ao local de trabalho, 35% dos entrevistados aceitariam deixar o carro em casa para pedalar diariamente. Além de revelar o tamanho da turma do “Sim”, ou seja, dos que aceitariam fazer a troca, dados da pesquisa mostram que há um perfil predominante dentro desse grupo.
A turma do “Sim” é formada majoritariamente por homens. Entre eles, 39,5% topariam a troca. Entre as mulheres, 31,9%, diferença de quase oito pontos percentuais. Quanto à escolaridade, ela tende a ser mais baixa quanto maior a disposição em usar a bicicleta. Entre os entrevistados com ensino fundamental, 38,1% deixariam o carro em casa, número que cai para 29% entre os quem têm ensino superior.
A disposição em pedalar também diminui conforme aumenta o poder econômico. Mais pessoas das classes D e E responderam “Sim” do que de qualquer outra classe: 45,5% topariam a deixar o carro em casa. Na classe C, o percentual baixou para 39,1% e, nas classes A e B, para 29%.
A turma do “Sim” tende a ser jovem. A faixa que demonstrou maior adesão é a que tem entre 16 e 24 anos: 50,7% fariam a troca. Entre quem tem de 35 a 40 anos, o número caiu para 33,6%. Na faixa acima de 60 anos, para 21%.
A pesquisa não diferenciou, no universo dos entrevistados, quem tem e quem não em carro. Talvez fosse possível argumentar que o perfil do “Sim” é de quem não tem carro, ou seja, de quem pensou em fazer uma troca hipotética contra quem considerou em uma troca real, uma vez que tem mais condições de manter um carro próprio e arcar com as despesas de combustível, impostos, seguro e financiamento, por exemplo. Por outro lado, em São Paulo, as classes D e E tendem a percorrer distâncias maiores entre o local onde moram e o local onde trabalham. E mesmo assim estão mais inclinadas a vencer essa distância pedalando do que os entrevistados de classes A e B.
Embora as ciclovias se concentrem nos bairros nobres da cidade, a fatia mais numerosa de paulistanos dispostos a percorrê-las diariamente parece estar situada nas áreas mais periféricas. Assim, permitir que essas pessoas também disponham da alternativa de ir para o trabalho pedalando é algo determinante para o sucesso ou o fracasso do projeto. Sem incorporar o perfil típico da turma do “Sim”, as ciclovias paulistanas correm o risco de virar ciclofaixas. Em vez de consolidarem como transporte alternativo para toda a população, podem se transformarem numa opção lazer das classes mais altas para os domingos ensolarados.
Por Mariana Barros
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