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Por André Sollitto e Ricardo Amorim
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Depois da ‘Cannabis’ medicinal, é a vez do cânhamo entrar em pauta

Variedade da planta tem diversas aplicações industriais; campanha busca assinaturas para impulsionar projeto que libera plantio e produção no país

Por Ricardo Amorim Atualizado em 20 set 2019, 10h55 - Publicado em 20 set 2019, 10h13

O debate público sobre a regulamentação da Cannabis finalmente chegou ao Brasil. Enquanto a Anvisa se prepara para divulgar novas regras para os medicamentos à base da planta, multiplicam-se eventos sobre o assunto em universidades, no Congresso, na OAB, e até em encontros empresariais. A mídia também parece ter despertado para o tema. Desde que comecei este Cannabiz, em meados de julho, não se passou uma semana sequer sem que a imprensa tenha dedicado pelo menos uma reportagem sobre a Cannabis. O foco tem sido principalmente o uso medicinal e, pelo que tenho acompanhado, estamos bem próximos de um consenso sobre a necessidade de ampliar o acesso dos brasileiros à medicina canabinóide.

O potencial terapêutico da erva foi capaz de unir até adversários viscerais como os deputados Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Carla Zambelli (PSL-SP). Colegas no grupo de trabalho que discute o pacote de segurança do ministro da Justiça, Sérgio Moro, os parlamentares encontraram na Cannabis medicinal um ponto de convergência e, juntos, lideram movimento de apoio ao PL 0399/2015, do deputado Fábio Mitidieri (PSD-SE). A proposta, cujo objetivo é “viabilizar a comercialização de medicamentos que contenham extratos, substratos ou partes da planta Cannabis sativa em sua formulação”, aguarda a instalação da comissão temporária para iniciar sua tramitação. Freixo e Zambelli devem fazer parte do colegiado e vão trabalhar por sua aprovação.

Ao mesmo tempo em que avançam as iniciativas favoráveis à terapia canabinóide, uma nova oportunidade de negócios começa a mobilizar alguns atores mais familiarizados com os movimentos globais: o cânhamo. Nessa espécie de Cannabis, as concentrações de THC, que é substância psicoativa da erva, são inferiores a 0,3%. Além da extração do CBD, canabinóide usado no tratamento de diversas doenças, o potencial econômico do cânhamo vem de suas aplicações industriais. Praticamente todas as partes da planta, das sementes às flores, passando pelo caule, galhos e folhas têm utilidade comercial.

No post de apresentação do blog, escrevi que a cannabis causaria impactos relevantes nas bilionárias indústrias farmacêutica, do álcool e do tabaco. Com o cânhamo, entram na lista os setores petroquímico (plásticos e biocombustíveis), têxtil (tecidos e revestimentos), alimentício (alimentos funcionais) e da construção civil (tijolos e estruturas). A essa altura, o leitor se pergunta: mas onde andava essa planta milagrosa, que serve para tanta coisa? Pois é, estava proibida, há uns 80 anos, apesar de ter sua utilidade conhecida há milênios. As cordas e as velas das naus que desbravaram o mundo no período das grandes navegações eram feitas de cânhamo. A independência dos Estados Unidos foi escrita e assinada em um papel de cânhamo. Estudos arqueológicos identificaram vestígios da planta em materiais datados do ano 8 mil AC.

Especialista em inovação, o consultor Felipe Watanabe, 28, estudava alternativas ao plástico quando descobriu o potencial das fibras de cânhamo para substituir a matéria prima de origem fóssil na produção de polímeros. Profissional de uma agência que ajuda empresas a aliarem lucro a propósito, Watanabe é um entusiasta de formas alternativas de produção que agreguem eficiência aos processos, seja do ponto de vista energético, ambiental, humano e, claro, econômico. “O cânhamo tem tantas aplicações que não faz sentido continuar sendo proibido no Brasil”, defende.

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Para mudar essa realidade, ele criou, há cerca de duas semanas, o movimento Cânhamo Sim, “uma campanha a favor da regulamentação do cultivo e da comercialização do cânhamo” no país. Seu primeiro objetivo é conseguir 20 mil assinaturas favoráveis à ideia legislativa que protocolou no portal e-Cidadania, do Senado Federal. Caso o número seja atingido até o dia 16 de novembro, a proposta será automaticamente enviada à Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e formalizada como Sugestão Legislativa, sobre a qual os parlamentares deverão se debruçar. Até a publicação deste post, a iniciativa havia recebido 1.182 apoios. No vídeo abaixo, Watanabe explica sua motivação, fala das vantagens da planta e mostra a utilização do cânhamo em diferentes indústrias.

[youtube=https://www.youtube.com/watch?v=ri2LIXrDEF0&w=560&h=315]

Em defesa da ideia, Watanabe escreveu na página do e-Cidadania: “Exemplos de aplicação incluem: matéria-prima mais sustentável do que o algodão na indústria têxtil, fabricação de embalagens biodegradáveis (substituindo plástico) e construção de paredes orgânicas que melhoram a qualidade do ar. Outros lugares do mundo, como a China e os EUA, já possuem o cânhamo devidamente regularizado na sociedade. A planta pode representar uma nova indústria para o Brasil”.

Estima-se que o mercado global de cânhamo industrial possa atingir os 10 bilhões de dólares em 2025. No ano passado, os Estados Unidos levantaram a proibição e transformaram o cânhamo em um produto agrícola com produção autorizada em todo o país. Por aqui, a expectativa é que o amadurecimento do debate acerca da cannabis medicinal ajude a fomentar também a discussão sobre o cânhamo. Quem sabe os deputados Freixo e Zambelli possam contribuir, em nome do desenvolvimento econômico, da geração de empregos e da sustentabilidade?

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